quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Migración y Creencias. Pensar las religiones en tiempo de movilidad‏

Reseña

Olga Odgers Ortiz, Juan Carlos Ruiz Guadalajara (coordinadores)

Migración y Creencias. Pensar las religiones en tiempo de movilidad

2009, México, El Colegio de la Frontera Norte- El Colegio de San Luis- Porrúa, 565 p.



El volumen Migración y creencias, coordinado por Olga Odgers Ortiz y Juan Carlos Ruiz Guadalajara, aborda el muy actual tema de las religiones y el movimiento. Desplazamientos de personas, movilidad de las creencias, mudanza de rituales, las distintas investigaciones que el volumen presenta tratan experiencias sociales y geográficas distantes a partir de una perspectiva analítica que pone en foco en los fenómenos religiosos y sus desplazamientos geográficos y sociales, pero también en las reinvenciones identitarias y en las transformaciones de los grupos sociales y sus creencias, y en la circulación de significantes religiosos en contextos diferenciados.



Compuesto por 20 artículos, el libro se organiza a partir de tres ejes. El primero, “Nuevas miradas hacia nuevas expresiones de prácticas religiosas “tradicionales”, comienza un recorrido de la experiencia de investigación de los estudios sobre religión y migración en la frontera entre México y Estados Unidos, caracterizándolo como un campo de estudios en expansión. Luego se abordan las experiencias de la alteridad estudiada a partir de las experiencias corporales de los migrantes en tanto extranjeros. Los análisis sobre las devociones fronterizas son el objeto de los capítulos tercero y cuarto; las devociones populares son trabajadas a partir de las comunidades que, atravesando la frontera en un sentido y en otro, afirman su identidad a partir de la creación de figuras que sostengan distintos modelos de movilidad.

El segundo eje, “Migración, pluralización religiosa y procesos de conversión”, enfoca la articulación entre cambio religioso y vínculos de alteridad. Los migrantes, percibidos como “otros”, son vistos por los “locales” a través del prisma de identidades religiosas determinadas. Así lo vemos en las representaciones cruzadas de católicos y evangélicos sobre los musulmanes en la frontera entre Argentina, Brasil y Paraguay, con los movimientos de piedad islámicos y las comunidades etnorreligiosas en Andalucía y en Canarias, en Alemania y Francia, y con los grupos pentecostales salvadoreños en Washington.

El tercer eje, “Migración e identidad, nuevos usos de la religión”, aborda las reconstrucciones religiosas y el cambio de las creencias en contextos translocales. Los distintos capítulos analizan la difusión de los protestantismos en Chiapas, el cambio religioso en Tijuana, las celebraciones de 15 años en contextos transfronterizos, las prácticas vudús entre República Dominicana y España, la Iglesia Apostólica como organización eclesiástica transnacional, y los rituales en torno de la muerte entre la población migrante michoacana.

El libro es una apuesta a pensar un tema de actualidad, a partir de investigaciones empíricas en locaciones diversas. Esta es precisamente la riqueza y la potencialidad analítica de una obra que expone casos pensados como herramientas para comprender realidades cambiantes, que contribuyen a dibujar paisajes nuevos en un mundo en transformación.

Verónica Giménez Béliveau

Encontro entre Paraguai e Brasil discute políticas de habitação para imigrantes

Jeane Freitas
Jornalista da Adital
Adital

Acontecerá neste final de semana em São Paulo, região Sudeste do Brasil, um encontro entre as autoridades de Migração do Governo paraguaio, representada pela Associação de Integração Paraguai-Brasil Japayke, e comunidades do Brasil. Dentre as várias pautas, o encontro pretende discutir o referendo – marcado para o dia 9 de outubro – que tratará sobre o voto dos paraguaios (as) que moram no exterior.

A realização do Referendo faz parte da emenda constitucional Nº 1 que foi sancionada pelo Congresso e promulgada no dia 14 de abril deste ano. Cerca de 3.031.143 cidadãos deverá comparecer ao Referendo em outubro, o primeiro a ser realizado no país.

Humberto Jara Arrua, presidente da Associação de Integração Paraguai-Brasil Japayke, ressalta a importância do encontro, destacando a pauta que diz respeito ao referendo. "Este encontro quer politizar ainda mais os imigrantes e a população sobre a importância do voto, onde através da consulta os paraguaios estrangeiros poderão votar fora do seu país e serem eleitos também”, disse.

A realização do Referendo refletirá os direitos eleitorais de imigrantes paraguaios no exterior. Essa temática será abordada pelo Presidente do Tribunal Superior de Justiça Eleitoral (TSJE) do Paraguai, Alberto Ramirez Sambonini, que ministrará palestra sobre o assunto no domingo (25).

No encontro, as comunidades poderão esclarecer dúvidas sobre regularização documental, direitos trabalhistas, além de se inscrever para o Programa de financiamento habitacional paraguaio chamado "Mi País, mi Casa", que permite, do Brasil, financiar uma casa no Paraguai. As inscrições são gratuitas.

Haverá ainda, entrega de casas aos paraguaios que se inscreveram no programa de financiamento habitacional em maio deste ano. A entrega das casas será feita pelo secretário executivo da Secretaria Nacional da Habitação do Paraguai (Senavitat), Gerardo Rolón Posse, e representantes do Conselho Nacional de Moradia (Conavi).

De acordo com a Secretaria de Repatriados, atualmente, residem na Argentina cerca de 600 mil compatriotas, na Espanha existem 200 mil, nos Estados Unidos cerca de 150 mil e no Paraguai 80 mil.

Programação

No sábado (24), será possível se inscrever para o programa habitacional do Paraguai na Praça Nicolau de Morais de Barros, Bom Retiro, São Paulo entre 14h e 19h. No mesmo dia, serão realizadas conferências sobre "Programas de Habitação no Paraguai”, com o secretário Gerardo Rolon Posse; "Ações efetivas para o Processo de Repatriação de Imigrantes” com Elias Samuel Lugo, ministro de repatriados e refugiados, e "Trabalho Decente no Mercosul” com José Luiz Velasquez, da Associação de Acadêmicos Laborais.

No domingo (25), das 10h às 14h, no Serviço Social do Comércio (Sesc) Bom Retiro (Alameda Nothman, 185), segue o ciclo de conferências sobre "Referendo de 9 de outubro: o Direito do Imigrante ao Voto” com Rosa Paola Piris, coordenadora Departamental e Bernardo Fretes, chefe distrital do Tribunal Superior de Justiça Eleitoral (TSJE) e "Políticas de Proteção ao Imigrante Paraguaio”, com Juan Buffa, diretor geral da Direção de Atenção às Comunidades Paraguaias no Estrangeiro (DACPE).

Mais informações: japayke@gmail.com ou www.facebook/japaykeparaguay.

Organizações celebram Dia Internacional contra Exploração Sexual e Tráfico de Mulheres e Crianças

Karol Assunção
Jornalista da Adital
Adital

Anita é uma menina que sofre exploração sexual. Felizmente, ela é apenas uma personagem criada pela organização Save the Children para a Campanha O Futuro de Anita. Lançada hoje (23), no Dia Internacional contra a Exploração Sexual e o Tráfico de Mulheres e Crianças, a campanha tem o objetivo de alertar as pessoas para a exploração sexual infantil, crime que afeta milhares de crianças de todo o mundo.

A Campanha de Save the Children convida as pessoas a mergulhar no mundo de Anita (www.elfuturodeanita) e conhecer as causas e consequências da exploração sexual infantil para, assim, mudar a vida de meninas e meninos que são vítimas do crime. A campanha aponta a corrupção, a tolerância social, o machismo, a violência e a desigualdade social como algumas das causas de exploração.

A organização também destaca os tipos de exploradores, as modalidades de exploração e as consequências do crime para as crianças. De acordo com a Campanha, meninas e meninos explorados, além da violência sexual, sofrem violência física e verbal. As consequências vão desde baixa autoestima, perda da confiança nas pessoas e medo generalizado até doenças sexualmente transmissíveis, gestações indesejadas e problemas psicológicos.

O tráfico de seres humanos também é um problema que preocupa. Segundo informações da Organização Internacional do Trabalho (OIT), por ano, cerca de 700 mil pessoas são vítimas de tráfico. Dessas, 90% são meninas e adolescentes e 80% são traficadas para fins de exploração sexual. A organização estima que atualmente existam entre 4 e 5 milhões de pessoas em alguma situação de tráfico.

No Peru, dados do Sistema de Registro e Estatística do delito de Tráfico de Pessoas e Afins revelam que neste ano já foram registrados 385 casos de tráfico de seres humanos com fins de exploração sexual. O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) estima que, por ano, entre 1.000 e 1.500 crianças guatemaltecas sejam traficadas para Europa e América do Norte.

Dia 23 de setembro

O Dia Internacional contra Exploração Sexual e Tráfico de Mulheres e Crianças, celebrado nesta sexta-feira (23), foi estabelecido na Conferência Mundial da Coligação contra o Tráfico de Pessoas, realizada em janeiro de 1999 em Bangladesh. A ideia é utilizar a data para chamar a atenção de governos e sociedade civil de todo o mundo para as causas e consequências da exploração sexual e o tráfico de seres humanos, e buscar soluções para o problema.

Para isso, organizações de direitos humanos de vários países realizam atividades ligadas ao assunto. No Brasil, por exemplo, 60 estudantes promoveram nesta manhã, no centro do Recife (Pernambuco), uma mobilização com distribuição de panfletos com informações sobre tráfico de pessoas e exploração sexual.

O assunto também foi tema de uma manifestação realizada na tarde de hoje em Mar del Plata, na Argentina. Na ocasião, os manifestantes participaram de uma rádio aberta, leram um documento e marcharam pelas ruas da cidade.

¿Qué es la TRATA DE PERSONAS?

Es la captación, el transporte, el tras-lado, la acogida o la recepción de personas a través de la utilización de medios como la fuerza, el secues-tro, el engaño, o amenazas para con el fin de explo-tarlas.
La explotación puede ser sexual, laboral, de servi-dumbre doméstica o trabajos forza-dos, para mendici-dad, matrimonio servil, extracción ilícita de órganos o adopción irregular.
Es el segundo deli-to más lucrativo a nivel mundial, tan solo por debajo del narcotráfico, generando alrede-dor de 42mil millo-nes de dólares anuales.
En nuestro país es un delito penaliza-do hasta con 16 años de prisión.
Es muy importante reportar cualquier situación sospe-chosa de esta índole para ayudar a las posibles víctimas a salir de las garras de estas redes que ofenden la dignidad huma-na y se benefician económicamente esclavizando a ter-ceros.
Reporte la Trata de Personas a:
Gestión de Trata y Tráfico de la DGME: 2299-8037
Policía Profesional de Migración:
2299-8195
OIJ: 2295-3317 u 800-8000-OIJ
PANI: 2523-0830
INAMU: 2527-8486
Fuerza Pública.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

!ALTO AL HOSTIGAMIENTO A LOS COMPAÑEROS FRAY TOMÁS GONZÁLEZ Y RUBÉN FIGUEROA!

A la opinión pública, a los medios libres e independientes,

A los organizaciones sociales y de derechos humanos,

A la comunidad internacional,

A la nación,



Por medio de la presente la delegación de la COMECOM en la Caravana al Sur con Justicia y Dignidad que ha recorrido los estados de Guerrero, Oaxaca, Chiapas, Veracruz y la frontera con Guatemala en Cd. Hidalgo para visibilizar las consecuencias de la llamada “Guerra contra el Narcotráfico” del gobierno federal, que no sólo afecta a los pueblos del sureste de México sino a los compatriotas migrantes de Centroamérica que recorren nuestras tierras hacia el norte, denunciamos el hostigamiento y amedrentamiento por parte del ejército y las policías municipal, estatal y federal, así como elementos de tránsito, a los compañeros Fray Tomás González y Rubén Figueroa del Albergue la 72 en el estado de Chiapas el día 17 de septiembre en su camino rumbo a Tenosique.



Amnistía Internacional, organizaciones de derechos humanos y algunos miembros de la Caravana en el acto de Palenque del día 16 de septiembre, en el cual participó Fray Tomás González, habían alertado de las amenazas de muerte durante la semana anterior en contra de Fray Tomás González por su compromiso y denuncia de las vejaciones que sufre la comunidad migrante en su paso por el sureste mexicano hacia la frontera norte del país, en las cuales están implicadas tanto las autoridades del Instituto Nacional de Migración como integrantes del crimen organizado.



Los compañeros fueron detenidos y cercados durante horas por el ejército y policías de los tres niveles de gobierno en su camino rumbo a Tenosique para surtir de insumos al albergue bajo su tutela, bajo el pretexto de que el compañero Fray Tomás González se encontraba en estado de ebriedad. Se denunció que un civil a bordo de una camioneta Ford Lobo golpeó en el rostro al compañero Rubén Figueroa y amenazó de muerte al compañero Fray Tomás González. Las autoridades intentaron despojar del automóvil a los compañeros y compañeras que venían en él para remitirlo y arraigarlo en la instancia correspondiente, a lo cual se negaron. Asimismo, las autoridades notificaron que se trataba de un asunto de seguridad nacional. Tras unas horas, luego de que se denunciaran los hechos, tanto por parte de organizaciones afines como por parte del MPDJ en el acto en Coatzacoalcos, las policías municipales, estatales y el ejército se retiraron.



Las organizaciones e individuos abajo firmantes denunciamos enérgicamente que el gobierno federal ataque, hostigue, amedrente e intimide a luchadores sociales comprometidos con la comunidad migrante, y hacemos un llamado a las organizaciones sociales y de derechos humanos, a los sindicatos, individuos, personalidades e intelectuales a repudiar este acto del gobierno en contra de nuestros compañeros y a construir un movimiento de solidaridad con nuestros hermanos migrantes que garantice el libre tránsito y la vida digna en su paso por el territorio mexicano.



!Alto a los ataques a los luchadores sociales!

!Los migrantes no son criminales, son trabajadores internacionales!

!Alto a la militarización del país!





Delegación en la Caravana al Sur de la Coordinadora Metropolitana

Contra la Militarización y la Violencia (COMECOM) y Movimiento Migrante Mesoamericano

a 18 de septiembre de 2011, Coatzacoalcos, Veracruz




FIRMAS:

PUEDEN NOTIFICARNOS DE SU ADHESIÓN A ESTE PRONUNCIAMIENTO AL CORREO juareznoescuartel@gmail.com O A TRAVÉS DE LOS COMENTARIOS EN LA ENTRADA DE NUESTRO BLOG:

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Começam mobilizações pelo Dia Mundial contra Exploração Sexual e Tráfico de Mulheres e Crianças

Jeane Freitas *

Adital -
O próximo dia 23 de setembro será um momento de grandes mobilizações em alguns países do continente latino-americano pelo Dia Internacional contra a Exploração Sexual e o Tráfico de Mulheres e Crianças. Esta data foi escolhida na Conferência Mundial de Coligação contra o Tráfico de Mulheres em 1999 em Dhaka, Bangladesh, e lembra a promulgação da primeira lei que permitiu punir os casos de prostituição e corrupção de menores de idade.

Com o objetivo de conscientizar as pessoas para essa problemática haverá ainda a realização de um encontro que acontecerá em Buenos Aires, Argentina, de 20 a 22 de setembro com diversos países.

Andréia Costa, coordenadora estadual do Núcleo de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas do estado do Ceará, Brasil, ressalta a importância da unidade entre as ações internas desenvolvidas e a união dos países latino-americanos no enfrentamento desse fenômeno reconhecido como um problema transnacional. "A possibilidade de estar na discussão junto dos outros países, reforça a sensação de que não estamos sozinhos nessa luta e somente com o engajamento internacional será possível enfrentar e erradicar o problema", disse.

Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), a cada ano cerca de 2500 pessoas são atingidas pelo tráfico. Dentre elas se destacam mulheres e crianças como maioria, ou seja, 90% das vítimas. Os casos, que hoje atinge todas as regiões do mundo, são tratados como uma forma de negócio que gera muito lucro. Essa prática só perde para tráfico de armas e drogas.

Os casos mais comuns do tráfico, que provocam nas vítimas a perda da liberdade, e muitas vezes, a própria vida, estão ligados à exploração sexual, casamentos servis, várias formas de trabalho escravo e forçado, mendicância, abuso de todos os tipos e remoção de órgãos.

A Organização das Nações Unidas (ONU), através do secretário geral, Ban Ki-moon solicitou a todos aos países a implementação do Plano de Ação Global contra o Tráfico de Pessoas, onde uma das principais ações "é coordenar ações em todos os níveis para lidar com este fenómeno a nível internacional".

Atualmente está em execução o Projeto Regional de Combate ao Tráfico de Pessoas, intitulado "Capacitação para a prevenção do tráfico na região do Mercosul, que envolvem os países como Argentina, Uruguai, Brasil, Chile e Paraguai. Esta iniciativa visa reforçar "um processo de regionalização para enfrentar o fenômeno e facilitar a colaboração entre agências para enriquecer as propostas de ação, especialmente considerando o grande impacto do tráfico na área".

Andréia Costa reforça, ainda, o esforço que o Brasil vem fazendo para enfrentar o problema, principalmente na semana que marca o Dia Mundial contra a Exploração Sexual e o Tráfico de Mulheres e Crianças. "Queremos atingir toda sociedade no sentido de conscientizar para os números de pessoas atingidas pelo tráfico, que não refletem à realidade existente no país."

Ela afirma que muitas pessoas podem ser vítimas sem saber, como o caso do tráfico de travestis que vem aumentando no país. "Nosso compromisso é conscientizá-las para que tomem conhecimento do assunto e assim possam efetuar a denúncia", disse.

Ações no Ceará

No Ceará, o Núcleo de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas realiza a 1ª Semana de Mobilização pelo Dia Internacional contra a Exploração Sexual e o Tráfico de Mulheres e Crianças, a partir de hoje (19) na Secretaria da Justiça e Cidadania (Sejus).

Além da semana, o Núcleo realizará o 1º Simpósio sobre Tráfico de pessoas na Serra da Ibiapaba (CE) no dia 17 de outubro, e está presente no grupo de trabalho da Secretaria de Turismo de Fortaleza (Setfor) que discutem ações e propostas de políticas públicas sobre os corredores do turismo em Fortaleza, capacitação com jovens em São Gonçalo do Amarante (CE), dentre outras atividades.

* Jornalista da Adital

CARTA DOS ATINGIDOS POR DESASTRES CLIMÁTICOS AO POVO BRASILEIRO

Nos dias 10 a 12 de setembro de 2011, nos reunimos em Brasília, Distrito Federal, para discutir as questões relacionadas aos desastres causados por eventos climáticos extremos que sofremos na pele em várias regiões do Brasil nos últimos anos. Foram enchentes, deslizamentos de terra, secas, tornados, chuvas de granizo, trombas d’água, mudança das marés, assoreamento de rios. Muitas pessoas morreram e muitos perderam tudo o que tinham na vida: suas casas, seus familiares e o fruto de seu trabalho. Esses eventos extremos são causados pela má utilização do solo, da água e do ar, emissão de gazes causadores do aquecimento global, desmatamento das florestas, dos mangues e das matas ciliares dos rios e nascentes, uso de agrotóxicos e fertilizantes químicos, queimadas, construção de grandes barragens hidrelétricas e usinas nucleares, falta de manejo adequado do lixo, poluição por resíduos domésticos e industriais, carcinicultura, monocultura em todas as suas espécies, como soja, eucalipto, pinus, cana e pecuária, e por fim, por um modelo de desenvolvimento que visa o lucro acima de tudo, sem considerar as consequências para as vidas que são colocadas em risco pelas atividades que agridem o meio ambiente.
Sabemos que os verdadeiros causadores dos fatores que levam aos desastres são as grandes indústrias, a produção e o uso de combustíveis fósseis, o agronegócio e as multinacionais todas em sua busca irresponsável por produtividade e lucro, o Governo Brasileiro que não prioriza a sustentabilidade em suas políticas públicas e que além de permitir, incentiva em todas as suas instâncias financeiramente as atividades destruidoras do meio ambiente. E por fim, os países ricos, grandes causadores das emissões de gases e que não aceitam reduzir suas emissões para evitar o agravamento do aquecimento do planeta.
No entanto, quem sofre as consequências somos nós. Nas áreas vulneráveis os governos tratam a questão com descaso. As políticas de defesa civil não são implementadas, os sistemas de alerta de desastres não funcionam, os governantes usam de forma demagógica o sofrimento das pessoas, e quando os desastres acontecem, a maior parte dos recursos públicos enviados para as comunidades não chegam aos necessitados. Até mesmo parte das doações enviadas por solidários de todos os cantos do país e do mundo são desviadas por autoridades corruptas e desalmadas.
Agradecemos de todo o coração a solidariedade enviada pelas boas pessoas espalhadas pelo Brasil e pelo mundo que se sensibilizaram perante o nosso sofrimento enviando donativos que, quando chegaram a nós, ajudaram a amenizar as nossas dores e a aquecer os nossos corações, renovando as nossas esperanças naquele momento angustiante de tão grandes perdas.
Pedimos à sociedade que se una a nós no esforço de buscar alternativas que evitem que milhares de outras famílias venham a sofrer as dores que sentimos e que ainda estamos sentindo, pelas consequências dos desastres que nos atingiram. É preciso seriedade dos 3 níveis de poder no tratamento da questão ambiental. Precisamos também reduzir as emissões de gases que provocam o aquecimento global interferindo no clima e causando os eventos extremos. Precisamos mudar o modelo de desenvolvimento, baseado no consumo desenfreado, e buscar alternativas que objetivem a sustentabilidade e a racionalidade na produção e no consumo de produtos e ainda na geração de energia, buscando uma relação harmônica com a natureza. Precisamos praticar o bem-viver. Precisamos que a sociedade se una a nós na criação de um movimento nacional que dê o passo seguinte nessa luta. Pressione os governos para criar políticas publicas que reduzam a vulnerabilidade das comunidades, aumentem as instancias de participação popular, implementem sistemas de prevenção, salvação e reconstrução.
A luta por justiça social, dignidade e respeito no nosso país é árdua. Nosso compromisso é lutar pela melhoria das condições de vida dos atingidos e para evitar novos sofrimentos com os eventos extremos causados pelas mudanças climáticas.
Brasília, 12 de setembro de 2011.
Atingidos e atingidas por eventos climáticos extremos dos seguintes Estados: Alagoas, Amazonas, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Pará, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo e Sergipe.

Fórum Mudanças Climáticas e Justiça Social

PRIMAVERA CIDADÃ

Pe. Alfredo J. Gonçalves, CS
Desde o último 7 de setembro, em meio às comemorações do Dia da Independência e às manifestações do Grito dos Excluídos, nos vimos de certa forma surpreendidos com a Marcha contra a Corrupção. Em alguns lugares, os participantes superaram os expectadores dos desfiles e discursos oficiais, misturando-se e rivalizando com a mobilização em torno da 17ª edição do Grito.
É sabido e notório que, de algum tempo para cá, os movimentos e organizações sociais passaram por crises, momento de apatia, perplexidades, encruzilhadas... Mas o terreno, embora movediço, nunca deixou de ser fértil. As Semanas Sociais Brasileiras, o Grito dos Excluídos, a Campanha Jubileu Sul, as várias edições do Fórum Social Mundial, os diversos Plebiscitos, a Consulta e as Assembléias Populares, a Via Campesina, o Grito dos Excluídos, a Campanha da Ficha Limpa... Sempre representaram uma espécie de primavera no outono e inverno da luta popular.
Não seria a Marcha contra a Corrupção mais um desses botões que dão vida nova ao marasmo geral, anunciando o início da primavera? Primavera é tempo de amores, cores, sabores, flores... Rimas que abrem perspectivas inusitadas, horizontes cada vez mais amplos. Vale a pena debruçar-se mais de perto sobre essa mobilização.

Vinho novo
De início, algumas características da Marcha contra a Corrupção. O uso da Internet é notável. Como o subcomandante Marcos, no grupo indígena mexicano, também neste caso a informática representou um meio de chamamento à mobilização. Ou seja, a idéia de vias alternativas à prática da política corrupta pode conviver com a tecnologia de ponta. Alternativa não é sinônimo de artesanato. Convém não esquecer a ambiguidade da técnica. Ela tanto pode alienar como levar a um engajamento libertador. No curso da história, por exemplo, é fácil reconhecer um grande paradoxo da tecnologia mais avançada. De fato, ela se encontra hoje nos meios mais sofisticados de cura medicinal e, simultaneamente, nas máquinas de guerra mais letais ou nos instrumentos mais devastadores da natureza. Isto não quer dizer que a tecnologia é neutra. Mas seu uso pode ser orientado para pavimentar a estrada de uma civilização do “bem viver”.
Outra característica da Marcha contra a Corrupção está na quantidade de pessoas que aderem às manifestações. Fiquemos com um exemplo apenas, mas significativo por tratar-se da capital federal. De fato, em Brasília, foi menor o número dos que a partir das arquibancadas se contentaram com um patriotismo passivo, aplaudindo os festejos oficiais, do que as pessoas que resolveram descer ao gramado e jogar o jogo, mostrando um patriotismo combativo frente a corrupção endêmica. Num tempo de “vacas magras” em termos de mobilização, não é fácil levar às ruas e praças tantas centenas ou milhares de pessoas. Vem à tona, quase espontaneamente, o movimento e o entusiasmo dos “caras pintadas”, por ocasião do impeachment do ex-presidente Fernando Collor de Melo. Aliás, também aqui houve quem saísse de cara pintada.
Novo botão da primavera cidadã, a Marcha tem uma função dupla: por um lado, expõe à luz do sol aquilo que se passa nos corredores obscuros de uma prática política histórica e estruturalmente viciada. Revela os vícios e vírus de nossa “rex publica”. Por outro lado, levanta a bandeira de uma nova visão nacional quanto ao uso correto do erário público. Ela é sintoma de um olhar mais aberto e agudo sobre as ações políticas e, ao mesmo tempo, chama a uma tomada de consciência crescente. Numa palavra, tende a ser positivamente contagiosa. Vinho novo que borbulha e gera uma espuma que pode movimentar as águas paradas.

Perguntas sem resposta
Mas a Marcha contra a Corrupção exerce um papel fundamental. Papel que o sensacionalismo e a espetacularização midiática costumam deixar a meio caminho. Ela põe em pauta uma série de interrogações que, sistematicamente, ficam sem resposta. Ultimamente, temos assistindo a um crescente número de “operações” da Polícia Federal, da Promotoria ou do Ministério Públicos. Operações que se caracterizam por seus nomes exóticos e pelos milhões ou bilhões de reais desviados do orçamento da União, dos Estados ou dos Municípios.
Perguntas que não querem calar: para onde vão esses milhões e bilhões de reais? São bloqueados, confiscados e retornam aos cofres públicos? Ou permanecem ocultos nos mais diversos paraísos fiscais? E quanto aos crimes de formação de quadrilha, prevaricação, fraudes, desvio e apropriação indevida de recursos públicos, nepotismo, tráfico de influência... Quais as penas? Como e onde são cumpridas? Até que ponto a “faxina” da presidente Dilma Rousself desce aos porões sujos e sórdidos das “maracutaias” tecidas por seus subordinados de primeiro, segundo e terceiro escalões?
Tudo indica que, ao contrário de punição, recebem prêmios. Tais criminosos, não raro, são coroados como uma nova promoção ou eleição. Voltam de cabeça erguida aos postos ocupados anteriormente. Silêncio total sobre o passado, nenhum constrangimento quanto ao presente, felizes perspectivas para o futuro. Enquanto a corrupção é premiada diante dos microfones, câmeras e holofotes, a ética põe o rabo entre as pernas e se encolhe com vergonha de fazer da política um meio de buscar o bem-estar social. A astúcia e a esperteza tomam o lugar da justiça e do direito. Os privilégios das velhas oligarquias permanecem intocáveis, enquanto os serviços públicos, particularmente à população de baixa renda, se notabilizam pela precariedade.
Resta ainda a pergunta sobre o destino dado à Lei da Ficha Limpa. Tem-se a impressão que a ficha suja se sobrepôs a todo o esforço dos cidadãos e que, cada político a seu modo, trata de limpar o próprio passado de corrupção e má administração. Com unhas e dentes afiados e com os advogados mais influentes, tratam de se manter na cadeira cativa do poder. O poder abre portas para ampliação da riqueza e esta, por sua vez, paga o preço de um mandato que se perpetua eleição após eleição.

Epidemia e vacina
Se é verdade que a Marcha contra a Corrupção amplia a aurora da primavera, o faz na medida em que brota de um inverno tenebroso. Inverno em que uma das maiores cargas tributários do mundo alimenta a corrupção endêmica. E esta, através de acordos e leis espúrias, retroalimenta a cobrança de impostos. Fecha-se assim um círculo de aço sobre os ombros da população. Vira e mexe, vem à pauta da Câmara de do Senado a recriação da famigerada CPMF. O pretexto é a saúde pública. Mas quem diz que esta estava às mil maravilhas nos tempos dessa extorsão pública disfarçada de imposto?
A fome da arrecadação parece insaciável. Medida pelo impostômetro, ela desnuda a fome das classes dominantes em manter privilégios que datam dos tempos da Colônia e do Império. A República e a Constituição, com o regime pretensamente democrático, não passam de um arcabouço legal para legitimar o espólio dos grandes sobre os pequenos. Pior é que entre os três poderes da União – Executivo, Legislativo e Judiciário – três “Cs” comandam as regras do cenário: cumplicidade, conluio e corporativismo... Os quais deságuam no rio turvo e turbulento de outro “C”, justamente a corrupção. Nessas águas navegam uma grande parte dos vereadores, deputados, senadores, ministros, juízes, representantes dos altos escalões, para não falar dos cargos majoritários.
O projeto de poder se sobrepõe ao projeto de nação. A promiscuidade é a moeda corrente. Salvo raras e louváveis exceções, cada político ou tecnocrata está disposto a encobrir os pecados do companheiro para cobrir os próprios. Como também está disposto e “fritar ou linchar” um comparsa para salvar a pele e o cargo. Quanto ao povo, vale enquanto massa de eleitores, não enquanto cidadãos de direitos. Daí a necessidade de manter e ampliar as políticas compensatórias (ou migalhas), especialmente às vésperas do pleito eleitoral e sob o pano de fundo da retórica e dos aplausos.
Há vacina contra essa epidemia? As iniciativas elencadas na introdução dizem que sim. O segredo está numa participação popular livre e ampliada. O que exige criação de instrumentos, mecanismos e canais de controle por parte da população e das instituições sociais. Controle das decisões políticas e do orçamento correspondente. Exemplos disso são os Conselhos de Saúde, Educação, Segurança, etc., quando escolhidos democraticamente e não manipulados pelo prefeito e seus apaniguados. Numa palavra, formas de uma democracia crescentemente participativa e mais direta, fortalecimento da sociedade civil.
Neste sentido, a Lei da Ficha Limpa não deixa de ser um antídoto ao vírus da corrupção. Mas o remédio pode ficar escondido no fundo das gavetas dos órgãos públicos ou, pior ainda, ser manipulado e distorcido, quando não banido das “farmácias”. Outro antídoto primaveril, sem dúvida, é a Marcha contra a Corrupção.

Solidariedade com o Haiti: regar sementes para um renascimento

Miriela Fernández
ALBA-movimientos
Adital

Tradução: ADITAL

Entrevista com Sidevaldo Miranda, integrantes da Brigada Dessalines, do MST no Haiti e um dos coordenadores da estadia de 76 jovens haitianos por organizações do campo brasileiro.

Na Escola Nacional Florestan Fernandes, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) culminou o intercâmbio que, durante um ano, realizaram jovens haitianos com organizações do campo brasileiro. Essa iniciativa, aprovada pela Via Campesina, ampliou o trabalho da Brigada Dessalines, criada pelo MST desde 2008 para regar em terra haitiana sementes de solidariedade.

Sidevaldo Miranda, participante na coordenação de ambas as experiências, contou a história e desafios desse processo, que se distancia dos recorrentes olhares assistenciais ao Haiti e alenta uma integração mais sólida entre os povos.

Como surge essa experiência de solidariedade do MST com o povo haitiano?

- Desde o início, o MST se propôs como estratégia a solidariedade internacional para reforçar a luta de classes e, dessa forma, ajudar a outros povos. Seguindo o exemplo de Cuba, hoje contamos com brigadas na Bolívia, no Paraguai, em Moçambique e, há cinco anos, também na Venezuela. Em 2008, enviamos a primeira brigada ao Haiti. A ideia surgiu no contexto da ocupação militar das Nações Unidas, em 2004, coordenada pelo Brasil.

O MST tem como princípio o rechaço a qualquer tipo de ocupação militar. Nesse sentido, defendemos a iniciativa de levar ao Haiti uma Brigada de solidariedade com os movimentos camponeses para apoiar em sua formação, o que concretizamos em 2008, com um grupo de quatro pessoas, encarregadas de conhecer a realidade haitiana ao longo de um ano. A partir do diagnóstico, veríamos como integrar nossas experiências no Brasil com a dos movimentos camponeses haitianos. Foi também uma maneira de dizer não à ocupação; de mostrar que o que o povo haitiano necessitava era a ajuda para construir mais autonomia no campo e melhorar a qualidade de vida nas zonas rurais e da sociedade em geral.

Que mudanças houve na concepção dessa estratégia após o terremoto de 10 de janeiro de 2010?

- Essa brigada que em 2008 teve o propósito de entender a realidade do país e dos movimentos camponeses, com o objetivo de contribuir na criação de um ponto de unidade entre essas organizações, de uma mais local até as de caráter nacional –um desafio do MST e da Via Campesina- se amplia após o terremoto. No dia 10 de abril de 2010, 30 pessoas a mais do MST chegaram ao Haiti para apoiar em áreas técnicas, na instalação de cisternas, na produção e no armazenamento de sementes, na reflorestação do país, no desenvolvimento da agroecologia.

Aprofundamos o processo formativo. Trabalhamos sobre o valor simbólico de instalar uma cisterna, que gera autossustentação e mais tempo para a luta, para a organização do movimento. Fazendo uma síntese, podemos dizer que algumas organizações haitianas foram perdendo autonomia devido às ONGs. Os militantes não recebem nada para manter-se em suas organizações e uma ONG paga um salário e os coloca em um escritório. Por isso, a brigada também trabalha no sentido de criar condições para a produção, levando em consideração que 60% da população do país é camponesa e carece de apoio econômico, inclusive de parte do Estado, para essa atividade. A maioria dos projetos destinados ao Haiti é assistencialista e tem um efeito midiático, pois se concentram em Porto Príncipe, na cidade, e não há muitas perspectivas de avanço para as áreas rurais.

A partir da Alba (Aliança Bolivariana para os Povos de Nossa América), a Venezuela, Cuba, a Via Campesina e o MST partilhamos a ideia de priorizar o campo, responsável por 40% da produção de alimentos para a população. Pretendemos reforçar a produção de arroz, também no Valle de Artibonite, pois foi destruída por importações dos Estados Unidos. Faremos vários esforços para conseguir recursos técnicos e ampliar e melhorar a produção própria do país.

O terremoto atraiu também uma remilitarização da nação. Como isso tem influído nesse contexto de trabalho da brigada, inclusive agora, quando o governo brasileiro maneja a possibilidade de retirar as tropas da chamada Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (Minustah)?

- Em primeiro lugar, essas notícias são consideradas por nós como uma conquista. No Haiti, há tropas somente para o controle da população, o que urge à nação é infraestrutura (escolas, vias de acesso a determinados lugares, construção de casas...) e uma ocupação militar não resolve essas demandas.

Supostamente, os militares estão lá para a segurança; porém, que segurança pode existir quando o povo não tem o mínimo de infraestrutura?

Com o terremoto, morreram umas 300.00 pessoas. Um ano depois, em 10 de janeiro de 2011, somente haviam sido retirados 10% dos escombros das ruas de Porto Príncipe e, além disso, continua a política assistencial. Os militares não fazem nada no Haiti. A brigada chegou, como Cuba e Venezuela, que enviaram profissionais (médicos, engenheiros, professores) para contribuir com uma mudança estrutural porque as condições existentes oprimem, privilegiam a competição e a restrição dos direitos da população.

Nesse sentido, como foi planejada essa outra etapa do processo de apoio ao país caribenho que consistiu no intercâmbio de jovens haitianos com movimentos camponeses no Brasil?

- Quando nos reunimos com o propósito de redesenhar a estratégia de solidariedade ante as consequências do sismo, como Via Campesina-Brasil, pensamos também nos recursos humanos e em sua formação, e decidimos acolher aqui uma brigada haitiana. Em setembro de 2010, chegou esse grupo, integrado por 76 jovens de oito organizações e em representação de todos os Departamentos do Haiti.

Em primeiro lugar, passaram pela Escola Nacional Florestan Fernandes e daí se inseriram em nosso movimento e em outros da Via Campesina, em várias regiões do Brasil. A ideia foi que conhecessem a história dos movimentos camponeses, do MST, as lutas de base, os acampamentos, as áreas cooperativas, as escolas em zonas rurais. Depois dessa convivência, regressariam para a Florestan para intercambiar aprendizagens e as formas de continuar o trabalho no Haiti.

Quais têm sido os principais resultados?

- Para o MST, é a primeira experiência dessa dimensão. Houve muitas dificuldades; porém, foi muito proveitosa. O resultado foi algo bem concreto, uma complementação de nossa atuação no Haiti. Também aprendemos a interpretar melhor suas necessidades e, nesse sentido, buscar as formas mais eficazes de apoio aos movimentos camponeses haitianos, de maneira a que tenham mais poder.

Quanto aos jovens haitianos, para eles é uma experiência única. Estiveram durante um ano fora de seu país, convivendo com outros movimentos, vendo suas lutas, e em lugares diferentes. Além disso, aprenderam a falar outro idioma e isso também faz parte da integração que queremos. De fato, passaram pela Escola em duas ocasiões e em ambas acontecia o curso de Teoria Latino-americana, o que lhes permitiu partilhar com jovens de 22 países da região, que recebem essa formação.

Que novos desafios enfrenta a Brigada Dessalines com o regresso desses 76 jovens ao Haiti?

- As organizações haitianas ainda não têm uma linha de luta conjunta. São lutas locais, em cada região, algumas pelo salário mínimo, contra a empresa Monsanto; porém, não estão unidas para mudar a estrutura do país, para transformar um modelo político de especulação da pobreza, da miséria. Por exemplo, 60% do orçamento da nação provêm da ajuda internacional.

Para a Brigada Dessalines. Essa situação é um desafio. Devemos contribuir com a integração desses jovens às organizações, apesar de que sabemos que nem todos vão se incorporar. Porém, àqueles que conseguirem, ajudarão seus movimentos muito mais a partir das aprendizagens do intercâmbio.

Após esse longo processo de apoio ao povo haitiano, como o MST resignifica a solidariedade entre movimentos sociais?

- Para o MST, a solidariedade tem uma dimensão prática: partilhar com um movimento camponês o melhor que temos quanto à implementação de técnicas. Porém, isso é feito por muitos outros. A distinção está em mostrar o valor dessa infraestrutura, de ações como a reabertura de uma escola técnica para a formação de jovens, que, em seguida, p0oderão atuar em sua organização, em um país onde essas instalações foram fechadas pelo Estado e onde mais da metade da população não sabe nem ler e nem escrever.

Sabemos que não vamos conseguir mudar tudo; são mínimos os recursos; porém, levar do Brasil a experiência de produção de sementes naturais, oriundas de uma região; que não sejam importadas, é evitar mais dependência das grandes multinacionais e conseguir que os movimentos produzam de forma autônoma.

Em relação à reflorestação, pensávamos que era um processo simples e é bem mais complexo. 80% da energia haitiana se baseia no carvão vegetal; há pouco gás de cozinha. Por isso, incentivamos também as organizações para a transformação da estrutura energética. Tampouco conseguiremos uma melhoria se a estrutura agrária não mudar. Se a terra continua concentrada, em mãos de latifundiários, o camponês que trabalha em uma parcela e tem que sair não terá preocupação, não trabalhará de maneira cuidadosa a terra. Dessa forma, os bosques continuarão sendo desmatados.

Diante de todas essas questões, não é o suficiente ter um projeto técnico. Por isso, a Brigada Dessalines trabalha com outra dimensão da solidariedade, que é a mudança de sentidos, para transformar estruturalmente o país, para fortalecer a luta dos movimentos camponeses.

Imigrantes

Imigrantes : Escravidão moderna na indústria da moda é combatida no Brasil. Recentes descobertas de exploração de mão de obra no setor de confecções mobilizam protestos em São Paulo.

Por Thiago Borges para Infosurhoy.com – 16/09/2011

SÃO PAULO, Brasil – Eles cruzaram a fronteira para realizar o sonho brasileiro. Mas muitos imigrantes ilegais se deparam com uma cruel realidade em oficinas de costura de São Paulo.

Peruanos, paraguaios e principalmente bolivianos chegam cheios de otimismo à mais populosa cidade do Hemisfério Sul.

Os imigrantes logo ficam sabendo de ofertas de trabalho que parecem promissoras. As pequenas confecções abastecem tanto comércios populares no centro de São Paulo quanto lojas das principais varejistas de moda em todo o país.

Mas a atividade que atrai tantos imigrantes à metrópole latino-americana geralmente é desempenhada em ambientes sujos, pouco arejados, sem saídas de emergência ou quaisquer outros itens obrigatórios de segurança no trabalho. Os proprietários das confecções não pagam direitos trabalhistas como férias, hora extra ou seguro desemprego.

A escravidão foi abolida no Brasil em 1888, mas representantes de entidades de combate ao trabalho escravo definem essas oficinas como “senzalas contemporâneas”.

O movimento trabalhista também responsabiliza os varejistas que vendem produtos fabricados por mão de obra explorada.

Para chamar a atenção da sociedade para o problema, em 26 de agosto, o Sindicato dos Comerciários de São Paulo reuniu 500 pessoas em um protesto na Rua Oscar Freire, endereço da capital paulista que abriga mais de 70 lojas de grifes famosas.

O alvo da manifestação foram empresas atualmente sob investigação do Ministério do Trabalho por de condições de trabalho análogas à escravidão, como Zara, Ecko, Brooksfield e Gregory.

“Essas lojas têm poder econômico e comercial para controlar de onde vêm seus produtos”, diz Grover Calderón, diretor da Associação Nacional de Estrangeiros no Brasil (Aneib).

Quatro dias depois, o sindicato continuou a campanha, distribuindo panfletos no Shopping Ibirapuera, um dos maiores da cidade.

E os protestos devem continuar, garante a entidade.

Até 2005, o combate ao trabalho escravo consistia no fechamento de oficinas e em multas aos imigrantes ilegais, conforme Calderón.

Mas, como muitos desses estrangeiros permaneciam no Brasil e seguiam trabalhando em outras oficinas irregulares, o Ministério do Trabalho decidiu que era hora de fechar o cerco à ponta mais forte dessa cadeia de irregularidades.

Cada vez mais casos vêm à nota

O caso mais recente é o da Zara, rede do grupo espanhol Inditex, com 1.500 lojas em diversos países.

A Superintendência Regional do Trabalho e Emprego de São Paulo (SRTE/SP) flagrou exploração de mão-de-obra em duas oficinas que produziam peças a fornecedores da Zara.

A primeira foi descoberta em maio na cidade de Americana (SP), onde 52 trabalhadores foram encontrados. Parte deles costurava calças para a Zara, segundo a ONG Repórter Brasil, que combate o trabalho escravo.

Em junho, outra oficina que mantinha condições de trabalho análogas à escravidão foi encontrada. Na Zona Norte de São Paulo, a SRTE/SP flagrou a exploração de 15 imigrantes bolivianos – incluindo uma adolescente de 14 anos.

A Zara poderá ser condenada a pagar até R$ 1 milhão em multas, mas a denúncia ainda irá a julgamento.

Em comunicado oficial, o grupo Inditex informou que vai revisar juntamente com o Ministério do Trabalho (MTE) as condições de trabalho em seus 50 fornecedores brasileiros para evitar novos casos de exploração.

O Sindicato dos Comerciários de São Paulo diz apostar em um aumento no número de denúncias de exploração de trabalhadores no ramo de confecções, já que a Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) estuda a criação da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Trabalho Escravo por sugestão do deputado Carlos Bezerra Jr. (PSDB).

A motivação do deputado foi o não-comparecimento de representes da Zara à reunião da Comissão de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana, da Cidadania, da Participação e das Questões Sociais da Alesp em 31 de agosto.

A varejista comunicou aos deputados que, devido a outros compromissos, seus dirigentes apenas estariam disponíveis para discutir o assunto no final de setembro.

Mas a grife espanhola não é a única grande rede varejista com uma rede de irregularidades por trás de cada peça.

Em 2010, a SRTE/SP descobriu exploração de mão de obra na cadeia produtiva da Lojas Marisa. Uma das quatro maiores redes do Brasil, com faturamento de R$ 2 bilhões em 2010, a empresa foi multada em R$ 633.600.

Outra rede, a Collins, teria contratado 78 oficinas irregulares entre janeiro de 2009 e junho de 2010. Nesse período, a empresa deixou de pagar R$ 137,2 milhões ao Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), segundo a SRTE/SP.

E ainda há o caso das lojas Pernambucanas, cujo fornecedor de uma de suas marcas terceirizou a produção a uma confecção que explorava 16 bolivianos. O flagrante ocorreu no final de março, quando a oficina foi fechada, e as Pernambucanas foram multadas em R$ 2,3 milhões.

*Nota do editor: Em 19 de setembro, o Infosurhoy.com publica a segunda parte dessa reportagem, apresentando as estratégias das grandes redes varejistas para evitar a contratação de empresas tercerizadas que exploran seus trabalhadores no Brasil.

Fonte: http://infosurhoy.com/cocoon/saii/xhtml/pt/features/saii/features/main/2011/09/16/feature-01


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ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE ESTRANGEIROS E IMIGRANTES NO BRASIL - ANEIB.

Site: http://br.groups.yahoo.com/group/estrangeiros_ANEIB/

Vídeo: http://www.youtube.com/watch?v=ypwjXe6rt4o

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Relatório do Encontro da Família Scalabriniana

No dia 10 de setembro de 2011, no Seminário Scalabriniano, situado no Bairro Pablo Rojas Km 3,5, Ciudad del Este - PY, realizou - se o Encontro da Família Scalabriniana, Padre e Irmãs que atuam na Pastoral dos Migrantes e/ou Mobilidade Humana, que assumem a missão nas fronteiras Brasil, Paraguai, Argentina e Bolívia. Estiveram presentes as Irmãs da Província Maria, Mãe dos Migrantes: Ana Maria Delazeri, Coordenadora Provincial do Apostolado, Marcolina de Lucca e Lediomara Francisca de Souza, da Província Cristo Rei, as Irmãs: Salete Migliavacca, Coordenadora Provincial do Apostolado, Ilda Conradi, Terezinha Mezzalira, Marines Biasibetti, Teófila Fernandez Barrio, Carolina Agüero Além e os Padres da Província São Pedro, Luiz Flavio Prigol, Evandro Antônio Cavalli, Conselheiro Provincial da Vida Religiosa e da Pastoral, e Leonardo Albani. O encontro foi coordenado pelos animadores do Apostolado das respectivas províncias e seguiu a agenda de trabalho: 1. Acolhida; 2. Oração; 3. Justificativa do encontro; 4. Questionamento: Como avaliamos a proposta do EISAL?; 5. Partilha da missão realizada na Pastoral da Mobilidade Humana e /ou dos Migrantes nas Fronteiras; 6. Compreensão de redes, parcerias, objetivos e finalidades do trabalho em rede; 7. Proposta de constituição da Equipe de Coordenação; 8. Sugestões de ações para o Projeto Comum da Pastoral dos Migrantes e/ou da Mobilidade Humana nas Fronteiras; 9. Avaliação do encontro. Após a acolhida e apresentação dos participantes, seguiu-se com um momento de espiritualização e reflexão orante do Evangelho do dia, segundo Lc 6, 43-49, com a dinâmica de recepção da Vela e da Palavra de Deus, alternado com mantras e construção da teia, trazendo presente as diferentes realidades e desafios da missão. Foram lidas e transmitidas as comunicações de unidade dos Superiores Provinciais. Procedeu-se com a justificativa da convocação do Encontro das Irmãs e dos Padres que atuam nas fronteiras Brasil, Paraguai, Argentina e Bolívia, feita através de correspondência enviada pelos coordenadores do Apostolado das Províncias envolvidas. Leu-se as propostas registradas na ATA do XXII EISAL realizado em maio de 2011, que segue: a) sensibilização pela situação do Norte da África e sul da Europa, o EISAL apóia as iniciativas da Família Scalabriniana em prol dos Migrantes; b) Equipe de Fronteira – O EISAL sugere que se promova um encontro com Padres e Irmãs que atuam nas regiões de Fronteiras, Brasil, Paraguai, Argentina e Bolívia, e nesse encontro seja articulada uma equipe para viabilizar projetos em comuns de Pastoral da Mobilidade Humana e/ou Migrantes. Também foi retomada a reflexão e conceituação apresentada pelo Superior Provincial dos Padres Scalabrinianos, da Província São Paulo, sobre Espiritualidade da Fronteira: 1- Ambigüidade da Fronteira, 2- Caracterização de fronteira, 3- Fronteira como não lugar. 4- A fronteira e o outro - apelo interpelador. Deu-se continuidade com a compreensão do trabalho em rede, seus objetivos e finalidades: Integrar e dar apoio, garantindo a viabilização de projetos através de um processo coletivo de força-tarefa que faça as coisas acontecerem, assegurar o apoio e ação efetiva para realização dos projetos estabelecidos como prioritários. A rede de apoio e um processo gerador não conclusivo. Ela não pode ter uma estrutura piramidal, porque precisa recuperar o contato com o outro. Não pode ter elementos normativos rígidos. Não pode ter poder de mando discriminatório porque este destrói a criatividade. A rede é a possibilidade de garantir a comunhão do amor em Deus. Após a escuta do texto, dos questionamentos contidos no mesmo e da proposta do EISAL: “formação de uma equipe para viabilizar projetos comuns na pastoral dos migrantes nas fronteiras”, cada participante teve a oportunidade de apresentar seu posicionamento em relação à proposta apresentada, conforme segue: Historicamente já houve tentativas e início de trabalho conjunto denominado Equipe Guazú. Na época os bispos apoiavam concretamente as iniciativas das/os scalabrinianas/os, porém, hoje, com a mudança dos bispos nas dioceses de fronteiras Brasil - Paraguai, a realidade mudou, sendo que o espaço não é mais o mesmo. Constata-se que houve o declínio da equipe, devido a transferências de padres e irmãs que estavam à frente do projeto. Destacou-se a importância da continuidade dos projetos missionários na substituição dos padres e irmãs. Sendo que esta proposta vem dos Superiores dos Institutos da Família Scalabriniana, faz-se necessário dedicar devida atenção, pois, diante dos desafios e exigências da missão é a eles que nos dirigimos e onde encontramos apoio. Temos uma dificuldade histórica no trabalho em comum. Se quisermos superar as barreiras, é preciso olhar a proposta de Jesus e escutar os clamores dos migrantes. Observando a prática das dioceses e das paróquias, percebe-se certo conservadorismo e fechamento às questões sociais, priorizando a Evangelização, através dos Movimentos, da Liturgia e dos Sacramentos. Neste sentido, as Congregações com carisma voltado para as questões sociais, enfrentam maiores dificuldades na realização das ações concretas na defesa e promoção dos Direitos Humanos. Precisamos olhar para dentro de nossas instituições, fortalecer a unidade missionária com maturidade e propormos ações significativas e expressivas na Igreja e na sociedade para enfrentar os desafios atuais da migração. Nos 20 anos de presença missionária nas fronteiras Brasil – Paraguai, embora todos os esforços e iniciativas de enfrentamento aos desafios da migração, os resultados e incidências ainda são inexpressivos. A proposta apresentada pelo EISAL, acreditamos ser a manifestação do Espírito Santo e uma resposta concreta a realidade histórica da migração. Para levar adiante a bandeira do Carisma e enfrentar os problemas sociais inerentes a migração, é preciso ter competência e utilizar novas estratégias na missão. Embora as dificuldades e pouco empenho das autoridades eclesiais, faz-se necessário assumir o carisma e apresentar o projeto pastoral de atenção ao migrante, aos bispos e lideranças das comunidades. Para concretizar o projeto missionário, precisamos abraçar o projeto do carisma e atuar nas bases, com a certeza e apoio dos Superiores Provinciais que garantem as condições para a missão, estabelecendo o diálogo com os bispos confirmando o projeto missionário. É necessário adotar uma metodologia específica e adequada às exigências atuais da realidade migratória, considerando a vasta fronteira Brasil - Paraguai - Argentina e Bolívia. Vê-se oportuna a proposta do EISAL, para assumir novas estratégias no serviço pastoral aos migrantes. É uma possibilidade e uma voz profética para a Igreja local, assumirmos a proposta do EISAL. Na sequência, houve a partilha da atuação missionária nas fronteiras, especificamente voltadas ao Serviço Pastoral dos Migrantes. Como aspectos positivos destacam-se: a posição geográfica da missão nas fronteiras, o processo de reestruturação da missão, priorizando o atendimento especifico ao migrante, a atuação como profissional em órgãos públicos que possibilitam a livre circulação, busca de parceria junto aos mesmos e a articulação do trabalho comum entre padres e irmãs, o reconhecimento público dos serviços prestados no atendimento específico aos direitos dos migrantes, a existência de trabalho comum em áreas de fronteira no Mato Grosso do Sul, a especial atenção dispensada às mulheres migrantes nas Casas de Acolhida e capacitação profissional. Aspectos que merecem nossa atenção: realidade concreta das necessidades básicas dos migrantes requer o conhecimento dos serviços prestados na área da Assistência Social para fazer os devidos encaminhamentos dos migrantes segundo as suas reais necessidades, dedicar maior atenção ao cuidado da espiritualidade dos migrantes e rever nossa atuação evangelizadora, necessidade de maior incidência junto aos órgãos públicos- CRASS- CRESS e Conselho Tutelar. Tomar posição crítica e inovadora diante do conservadorismo e fechamento da Igreja em relação às questões sociais, a inexistência de um plano Pastoral nas Dioceses que reconheça o Serviço Pastoral aos Migrantes, o recuo na execução efetiva da pastoral dos migrantes nos espaços que nos são favorecidos, a continuidade dos projetos quando na substituição dos/as missionários/as, o relacionamento com os padres nas dioceses. Os participantes apresentaram as seguintes sugestões a serem inseridas no Projeto Missionário: Aproveitar da iniciativa já existente de realização de Seminário Migratório Sem Fronteiras na sua XI edição, ampliando e fortalecendo a participação com nova modalidade, sendo um dia de estudo e aprofundamento de temas nas áreas: antropológica, teológica e sociológica para os missionários envolvidos nas fronteiras e na sequência seminário de estudo pertinente a temática migratória e Direitos Humanos, com a presença de migrantes como protagonistas e leigos atuantes na pastoral, maior incidência na conquista e efetivação de garantia de políticas e de direitos humanos aos migrantes, intensificar a participação na missão Scalabriniana que já vem sendo realizada em locais estratégicos de presença missionária, realizar mutirões junto aos órgãos governamentais constituídos para regularizar a documentação de migrantes, visitas periódicas às Dioceses e às Paróquias para a conscientização da missão da Igreja na acolhida e integração dos migrantes e Refugiados, apresentar o projeto missionário de fronteira para os bispos das Dioceses envolvidas no espaço territorial, intensificar o atendimento às mulheres gestantes e às adolescentes, especial atenção aos migrantes retornados, para a construção do projeto missionário, é fundamental considerar: que migrante pretendemos atingir?, Que metodologia de pastoral adotar?, quais tendências migratórias e que ações a serem priorizadas?. Scalabrini tinha um coração tão grande que, uma Diocese para ele era pequena, assim, os corações dos/as Scalabrinianos/as presentes abrem-se para o projeto missionário, como sinal profético para os novos tempos e assim vivermos o legado de Scalabrini. Este relatório será enviado aos padres e irmãs missionários/as nas fronteiras, convidados/as para o encontro, porém impossibilitados de participar, os quais também poderão contribuir, enviando por correio eletrônico suas sugestões para a construção do projeto missionário de fronteiras. Avaliação do Encontro, a coordenação feita pelos animadores do apostolado e a sintonia entre os mesmos, que demonstraram segurança na condução do trabalho, a abertura e esperança para o novo, confiança na continuidade e concretização do projeto com a participação dos coordenados provinciais do Apostolado, união de forcas para um projeto maior de atendimento ao migrante e enfrentamento aos desafios da missão, a proposta do EISAL veio ao encontro dos anseios dos missionários nas fronteiras, este projeto possibilita um novo respiro missionário, o espaço, a acolhida dos padres para o encontro, a partilha das refeições. A coordenação do Projeto Missionário de Fronteira ficou sob a responsabilidade dos coordenadores do Apostolado e mais um membro de cada Província a ser convidado pelos Governos Provinciais. A próxima reunião da Equipe ficou agendada para os dias 17 e 18 de dezembro de 2011, em Foz do Iguaçu - PR , onde a equipe construirá um primeiro esboço do projeto considerando as sugestões contidas neste relatório, bem como as que chegarão por correio eletrônico dos integrantes que estiveram impossibilitados de participar do encontro.

BANGLADESH - Agricultores pobres vendem seus rins para pagar dívidas: a denúncia de ONGs

Fonte: FIDES NEWS, 17/09/2011
19-09-2011

Daca (Agência Fides) - Uma prática crescente está se transformando em um verdadeiro escândalo: no norte de Bangladesh, agricultores reduzidos à miséria vendem seus rins para pagar dívidas. Os transplantes são feitos em centros médicos ou clínicas cúmplices em Bangladesh, Índia e Cingapura: é a denúncia recebida pela Fides de várias ONGs que atuam em Bangladesh e de agentes humanitários católicos que assinalam o fenômeno como "cada vez mais comum e preocupante".

Rosaline Costa, ativista da ONG "Human Rights Hotline Bangladesh", explica à Fides: "As vítimas são agricultores tribais em condições de indigência. Bandos de criminosos regionalmente organizados exploram a miséria de pessoas inocentes, especialmente em áreas rurais, onde a presença do governo e da polícia é menor e existe mais corrupção. Esta prática continua há anos no silêncio, inclusive nas favelas de cidades como Daca. Agora está vindo à tona. Como organizações da sociedade civil, pedimos uma firme intervenção das autoridades para detê-lo e desintegrar os grupos criminosos".
Um rim pode valer de 130 mil takas (1.700 dólares) até 400 mil takas (mais de 5.000 dólares). Os agricultores frequentemente não sabem que todo o negócio do tráfico de órgãos é ilegal, proibido pela legislação internacional e punido em Bangladesh com multa e prisão.

Como informa a imprensa local no distrito de Joypurhat (Norte de Bangladesh) a polícia já identificou 42 casos de agricultores que venderam seus rins, mas os casos certificados são mais de 200, e as vítimas deste tráfico têm aumentado nos últimos cinco anos.

Na última década, o tráfico de órgãos - que registra no mundo um movimento de cerca de 50 milhões de dólares por ano - se tornou lucrativo no sul da Ásia, de modo especial na Índia e no Paquistão. (PA) (Agência Fides 17/9/2011)

MULHERES DESENVOLVEM TRABALHO ARTESANAL COM FIBRA DE BANANEIRA

http://www.navirainoticias.com.br/ler.asp?id_noticia=12042 [1]
ANTES, 80% DESSAS MULHERES SOBREVIVIAM DO LEITE, HOJE ELAS ENCONTRARAM NO ARTESANATO UMA ALTERNATIVA DE RENDA

Fonte: ASSESSORIA DE IM

Mulheres de diversos assentamentos rurais de Itaquiraí, que desenvolvem um trabalho artesanal à base de fibra da bananeira, juntaram-se e fundaram o Grupo Milagre da Fibra. De forma unida, elas criam linhas de produtos de mesa e uso pessoal como bolsas e capa para notebook.

Instituído sob forma de associação desde 2006, o grupo reúne mulheres de cinco assentamentos diferentes: Aliança, Tamakavy, Boa Sorte, Indaiá e Sul Bonito. O trabalho, que antes era feito de forma rudimentar, recebeu o incentivo da prefeitura, que começou um trabalho de melhoramento com apoio do Sebrae, proporcionando capacitação as artesãs.

Antes, 80% dessas mulheres sobreviviam do leite, hoje elas encontraram no artesanato uma alternativa de renda. “Com as peças que a gente vende numa lojinha em Bonito e nas feiras que participamos, o artesanato se tornou um complemento da renda”, relata a artesã Maria Silvina Beltrame. Trabalhando com artesanato desde 2006, Maria Silvina conta que seu emprego anterior era de empregada doméstica. “Antes eu era empregada, nunca tinha visto nada igual ao trabalho feito no Milagre da Fibra. Com o artesanato sou reconhecida pelo que faço”, diz.

Com o trabalho desenvolvido pela associação, o trabalho já foi apresentado em diversas feiras, salões e mostras como a Expoartesanias em Bogotá (Colômbia), VI Feira Nacional da Agricultura Familiar e Reforma Agrária no Rio de Janeiro, Salão Nacional de Turismo em São Paulo, Festival de Turismo das Cataratas do Iguaçu em Foz do Iguaçu (PR), entre outros. No último evento citado, o Milagre da Fibra recebeu o título de uma Iniciativa de Desenvolvimento Sustentável pelo Ministério do Turismo.

Atualmente, as peças das artesãs está exposto na Casa do Artesão em Campo Grande, que fica na avenida Calógeras, 2050, as peças fazem parte da exposição “Milagre da Fibra - Artesanato de Itaquiraí”. Por meio de uma parceria firmada entre o Sebrae e a
prefeitura de Itaquiraí, o grupo pode fazer uma série de cursos para o aperfeiçoamento do trabalho apresentado e para a administração da associação.

Itaquiraí, localizada a 406 km da Capital na região Sul do Estado, está entre as 21 cidades que fazem parte do Projeto de Apoio ao Desenvolvimento Econômico dos Municípios (Prolocal), que visa levar ações de capacitação e consultoria para promover o crescimento dos municípios. As atividades envolvendo lideranças, comunidade, empreendedores e técnicos de órgãos públicos, em parceria com prefeituras e entidades locais.

(Texto: Wagner Jean – Agência Sebrae de Notícias MS-Navirai Noticias).

Números sobre trabalho escravo no país apontam para problemas como desigualdade social e nível de escolaridade

Em média, 3,3 mil escravos são libertados por ano, o que equivale a 282 por mês ou nove por dia
O Ministério Público do Trabalho (MPT) calcula que cerca de 20 mil trabalhadores vivem em condições de escravidão no país, entretanto, a realidade se mostra pior. Entre os anos de 2000 e 2010, quase 40 mil vítimas foram resgatadas e, cada vez mais, a fiscalização vem se deparando com esse tipo de problema. Os estados campeões de irregularidades são Pará e Minas Gerais, que tiveram 559 e 511 trabalhadores resgatados em condições de escravidão no ano passado, respectivamente. Destaca-se ainda Goiás (343), Santa Catarina (253), Mato Grosso (122), Paraná (120) e Maranhão (119).
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Quanto mais elevado o nível de pobreza e menor o de educação, maiores são os problemas. No Distrito Federal, ainda não há registros de tirados da escravidão. Na capital, o problema é outro. Brasília faz parte da rota do aliciamento de trabalhadores. No Brasil, um dos maiores desafios a serem enfrentados ainda é o transporte irregular de trabalhadores.
A informação é do Correio Braziliense, 28-08-2011

II Seminário Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas e Trabalho Escravo

O II Seminário procurou estudar e compreender o panorama do tráfico de pessoas e trabalho escravo, verificar e avaliar ações já desenvolvidas, fortalecer e estabelecer novas intervenções sócio-pastorais para o enfrentamento do tráfico de pessoas e trabalho escravo. Durante as discussões foram apresentadas propostas para o II Plano Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas no Brasil, em fase de elaboração. O Plano deverá contribuir para que a dignidade humana seja efetivamente contemplada por políticas públicas e para que todas as pessoas possam exercer a cidadania.
Foi problematizada a questão do tráfico de pessoas em âmbito nacional e internacional, trazendo importantes informações sobre a CPI do Tráfico de Pessoas, ora em andamento no Congresso Nacional.
Também se enfatizou a importância do papel da sociedade civil na avaliação do I Plano Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas e relatou-se como está sendo implementada a elaboração do II Plano, informando que o Grupo de Trabalho Interministerial, estabeleceu várias modalidades de participação como, consulta virtual no site do Ministério da Justiça e a realização de Plenárias Livres em diferentes regiões do país para que as especificidades e demandas de cada localidade ou região sejam incorporadas ao Plano.
Sugeriu-se que as Pastorais e demais entidades presentes realizassem plenárias nos estados e que esse seminário também se configurasse como plenária livre para apresentação de sugestões e propostas ao II PNETP. Ademais, ressaltou-se a importância de serem enviados à Coordenação Nacional relatórios e informações da sociedade civil, uma vez que estes são indicativos reais do que ocorre pelo país, e, permitem às instâncias federais dirigir-se aos governos estaduais
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propondo-lhes a implementação de aprimoramentos e de ampliação de serviços.
O Pe. Elio Gasda apresentou o tema “Tráfico de Pessoas e Trabalho Escravo: lugar teológico, clamor ético, missão da Igreja”. Pe. Élio situou a questão do Trabalho Escravo e do Tráfico de Pessoas a partir de três eixos: a) as origens teológicas do problema em questão: as estruturas de pecado e a idolatria; b) as origens da ética cristã: o clamor das vítimas do pecado do mundo; c) os aspectos fundamentais da missão da Igreja em relação a este problema. Por fim, Pe. Ermanno Allegri, da Agência Adital apresentou a “Nossa relação com as Mídias: como incentivar o papel político e pedagógico no combate ao tráfico de pessoas”.
O Seminário foi promovido pelo Grupo de Trabalho de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas e Trabalho Escravo, do Setor Pastoral da Mobilidade Humana, em Agosto de 2011, e, contou com a colaboração do Ministério da Justiça do Brasil e da Cáritas dos Estados Unidos.
Pe. Antonio Garcia Peres - SPM

CNBB promove debate sobre a Reforma Política

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil promoveu um debate sobre a Reforma Política com o senador Antônio Carlos Valadares e os deputados federais Henrique Fontana e Ronaldo Caiado. “Nosso objetivo é provocar o debate e fazer com que os parlamentares saibam que a Igreja está acompanhando de perto as discussões da Reforma Política”, explicou Pe. José Ernanne Pinheiro, um dos assessores da Comissão da Reforma Política da CNBB. Tanto o Senado quanto a Câmara possuem uma Comissão sobre a Reforma Política, além de uma Frente Parlamentar, com Participação Popular. Segundo Pe. Ernanne, o que se percebe, é que ninguém tem clareza ainda do que vai ser a Reforma Política. “Por isso escolhemos para o debate o tema „Reforma Política – para quê!”, concluiu. O debate ocorreu no auditório do Centro Cultural de Brasília, em 10 de Agosto de 2011, e, foi coordenado por Dom Joaquim Mol Guimarães, presidente da Comissão nomeada pela CNBB para acompanhar a Reforma Política, em discussão no Congresso Nacional. Participaram também a Presidência da CNBB, lideranças das Pastorais e Movimentos Sociais, bispos do Conselho Episcopal Pastoral da CNBB e bispos recém-nomeados. Os debatedores foram a cientista política, Lúcia Avelar, e o jurista Marcello Lavanère Machado, ambos membros da Comissão Brasileira Justiça e Paz. Pe. Antonio Garcia Peres - SPM

Pastoral dos Migrantes realiza dois Encontros de Cultura Quilombola

Quilombolas se encontram para festejar e trocar conhecimento, sonhos e esperanças em evento organizado pela Pastoral dos Migrantes
A manifestação cultural é uma das melhores formas de abordar assuntos complexos e importantes nas relações sociais do nosso cotidiano, como gênero, direitos humanos e sociais, desenvolvimento sustentável, infância e juventude, questão agrária, educação, saúde, espiritualidade, associativismo, transporte, etc. E foi exatamente isso que aconteceu em dois Encontrões de Cultura Quilombola realizados pela Pastoral dos Migrantes de Araçuaí em julho deste ano, nos respectivos municípios de Araçuaí e Minas Novas.
De maneira lúdica e pedagógica, grupos quilombolas apresentaram sua arte, trazendo temas para reflexão e aprendizado aos participantes. Houve uma participação intensa de homens, mulheres, jovens e crianças, os quais socializaram suas lutas, seus sonhos, suas resistências, seus costumes e esperanças.
A troca de conhecimento em forma de festa e manifestação cultural foi bem sucedida, fazendo com que muitos participantes já reivindicassem novos Encontros para 2012. Cerca de 800 pessoas participaram dos dois Encontros expressando a cultura de comunidades quilombolas rurais e urbanas dos municípios de Araçuaí, Minas Novas, Itinga e Chapada do Norte no Vale do Jequitinhonha-MG.
Pastoral dos Migrantes – Vale do Jequitinhonha-MG

Caminhoneiros confirmam a importância do trabalho da Pastoral dos Migrantes

Há alguns anos a Pastoral dos Migrantes desenvolve atividades com caminhoneiros que passam por em Teresina, Piauí.
A profissão de ser caminhoneiro – que adentra na questão da mobilidade humana – é contemplada pela Pastoral dos Migrantes. Em Teresina, a Pastoral desenvolve visitas semanais aos caminhoneiros nos locais de estacionamento, com a finalidade de marcar uma presença solidária e amiga que ameniza a solidão sofrida por muitos motoristas que viajam pelo Brasil numa rotina bastante cansativa e pouco rentável. Motoristas são convidados a formarem um grupo para rodadas de conversa franca e amigável. Outras vezes, o atendimento é feito de maneira individual. Os assuntos mais recorrentes são sobre os perigos da estrada, a saudade da família e as queixas da profissão e/ou da empresa em que trabalham.
Ao participarem de uma celebração eucarística, ouvem com atenção a Palavra de Deus que lhes é dirigida no contexto em que vivem. Todos concordam que, ao transportar alimentos e utilidades, ajudam a construir a sociedade que todos almejam. Na maior parte de seu tempo, estão sozinhos. Por isso, esses homens recebem com muita simpatia e amor as visitas da Pastoral, pois os fazem sentir como pessoas lembradas e valorizadas em sua dignidade. Eles declaram que é uma visita agradável, com palavras de conforto e alegria que dão suporte para continuarem a exercer um bom trabalho. “É a presença de Deus” dizem eles.
“A Igreja vai onde está o povo”, mantendo contato com os proprietários dos estacionamentos, para que ofereçam boas condições e acolhida a esses caminhoneiros, embora a rotatividade a que são submetidos pelo trabalho nem sempre permita que as isso seja realizado sempre com os mesmos caminhoneiros. Eles são milhares, que andam pelas estradas do nosso País. No Posto Magnóllia, Sul de Teresina, por exemplo, passam pelo menos dez mil deles por ano.
Ir. Maria Bordignon – Teresina-PI

Imigrantes Paraguaios Solicitam Refúgio

A Pastoral dos Migrantes da Arquidiocese de Campo Grande acompanhou o processo de solicitação de refúgio de sete paraguaios vindos da cidade de Horqueta, departamento de Concepción-Py. Os mesmos pertenciam à OCN-Organização campesina do Norte que luta pelos direitos de produção dos campesinos. Eles foram presos por um ano e meio sem justa causa. Com a intervenção da CODEHU-PY- Coordenadoria de Direitos Humanos do Paraguai foram libertados, mas continuaram recebendo ameaças de serem capturados novamente. Com medo, fugiram para São Miguel do Iguaçu-PR-Brasil. Por causa da perseguição, foram encaminhados pela Cruz Vermelha do Brasil, para Campo Grande-MS, onde fizeram o pedido de refúgio. Eles foram acompanhados pela equipe da Pastoral dos Migrantes que os orientou sobre obtenção de refúgio, abrigo, documentação como CPF e carteira de trabalho. Agora, poderão escolher uma cidade brasileira e recomeçar suas vidas novamente.
Pastoral do Migrante de Campo Grande-MS - 27 de Agosto a 06 de Setembro de 2011.

Nota de Repúdio ao Trabalho Escravo

O SPM – Serviço Pastoral dos Migrantes vem a público repudiar as ações e o comportamento da Inditex, dona da rede internacional de confecções Zara, flagrada e autuada por utilizar trabalho escravo de quinze imigrantes bolivianos e peruanos, inclusive um menor de quatorze anos, em sua cadeia de produção no centro da cidade de São Paulo. Do mesmo modo, o SPM repudia a negligência do Governo do Estado de São Paulo que, através da Secretaria Estadual de Educação, contratou a construtora Irmãos Moura, que submeteu trabalhadores migrantes nordestinos a condições análogas a de escravos na construção de duas escolas nas cidades de Amparo e Hortolândia, interior de São Paulo. As ações da empresa Zara e da Secretaria da Educação do Governo Paulista evidenciam a escalada de violação dos direitos humanos por empresas multinacionais e estatais não apenas em áreas rurais (pecuária, carvoarias, monoculturas, etc.), mas também nos grandes centros urbanos atingindo, sobretudo, os trabalhadores migrantes. Justiça social e distribuição de renda devem ser o primeiro objetivo do desenvolvimento sustentável. É com esta concepção que o SPM reafirma seu compromisso de denunciar e repudiar veementemente as violações de direitos humanos e confirma sua missão de promover o respeito aos migrantes e imigrantes, em prol de uma sociedade justa, sustentável e solidária. SERVIÇO PASTORAL DOS MIGRANTES – SPM São Paulo, 31 de Agosto de 2011

CNBB e Cáritas lançam campanha em favor das vítimas das chuvas de Santa Catarina

Adital

Na última quarta-feira, dia 14 de setembro, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) Regional Sul 4, através da Cáritas Brasileira Regional Santa Catarina, iniciaram uma campanha com o objetivo de arrecadar fundos para ajudar as vítimas atingidas pelas fortes chuvas no estado de Santa Catarina, no mês de setembro.

Dados da Defesa Civil apontam que quase 1 milhão de pessoas já foram afetadas pelas enchentes. Os números revelam ainda que 162.315 pessoas encontram-se desalojadas e 15.359 desabrigadas, além dos 55 municípios em situação de emergência, dos quais 11 já decretaram estado de calamidade. Blumenau, Rio do Sul, Gaspar, Itajaí, Ilhota, Rio do Oeste e Navegantes são alguns dos municípios mais atingidos pelas chuvas.

Os interessados em contribuir com a campanha podem depositar as doações, de qualquer valor, na conta: Banco do Brasil, Agência: 1453-2 – Florianópolis (SC), Conta Corrente: 39.984-1, Titular: Cáritas Brás. – Reg.SC – EMERGÊNCIAS.

Mais informações através do site http://cnbbsul4.org.br/rede/.

Organizações iniciam Campanha Mundial pelo Direito à Moradia e à Terra

Karol Assunção
Jornalista da Adital
Adital
Organizações sociais ligadas à luta pela habitação iniciam hoje (16) a Campanha Mundial pelo Direito à Moradia e à Terra. As mobilizações, incentivadas pelas principais redes internacionais de luta pela moradia, se estenderão até o dia 31 de outubro. Com o lema "Resistências e alternativas pelo direito ao habitat”, a Campanha reforça, nesse período, a luta contra expulsões, despejos, monopólio de terras e perseguição de militantes.

De acordo com comunicado de Aliança Internacional de Habitantes (AIH), tais questões envolvem "todo o mundo” e não somente as organizações ligadas à moradia. "Os alvos de ataque são as políticas neoliberais, causa da crise global e urbana, da corrupção e da especulação imobiliária e sobre a terra, que excluem mais de bilhões de pessoas da moradia e joga para a rua mais dezenas de milhões a cada ano”, afirma.

No banco dos réus, segundo a organização, estão as Instituições Financeiras Mundiais, como Banco Mundial, Fundo Monetário Internacional (FMI) e Banco Interamericano de Desenvolvimento, consideradas como as principais causadoras da crise.

O Programa das Nações Unidas para os Assentamentos Humanos (ONU-Habitat) também não escapou das críticas da organização, a qual aponta a instituição internacional como "cúmplice dos despejos caso suas burocracias priorizem as leis do mercado sobre os direitos humanos e a sustentabilidade”.

AIH ainda chama as organizações mundiais a se articular em um espaço global comum de entidades e redes a fim de trocar experiências de luta e compartilhar estratégias para colocar em prática a solidariedade global e local. "Por isso a riqueza das Jornadas: juntos gritar Basta às violações do direito à moradia e à terra, juntos erguer cimentos sólidos, essenciais para ganhar batalhas pontuais e alcançar ‘outro mundo possível”, destaca.

De acordo com o comunicado, as organizações mobilizadas ainda aproveitam as Jornadas de Lutas para desafiar os governos a promover políticas públicas de moradia e terra "despejo zero”. "Corresponde aos governos responder positivamente a estas propostas, rechaçando qualquer tentação repressiva”, conclui.

O comunicado completo pode ser lido em: http://esp.habitants.org/noticias/newsletter/jornadas_mundiales_del_habitat_2011/gritar_juntos_basta_a_las_violaciones!_conquistar_juntos_el_derecho_a_la_vivienda_y_a_la_tierra

Campanha declara apoio à luta do povo haitiano por ensino público de qualidade

Karol Assunção
Jornalista da Adital
Adital

O artigo 26 da Declaração Universal dos Direitos Humanos estabelece que "toda pessoa tem direito à educação” e que "a educação deve ser gratuita, pelo menos a correspondente ao ensino elementar fundamental”. Entretanto, não é bem isso que se observa no Haiti. Se antes do terremoto de janeiro de 2010 o sistema educacional no país já era deficiente, com uma taxa de analfabetismo de 60% e com mais de 80% de escolas privadas; a situação após o sismo, que destruiu 5 mil escolas, continua crítica, sem a promoção de uma educação pública e de qualidade.

Foi por conta desse quadro que a Campanha Latino-Americana pelo Direito à Educação (Clade) divulgou, no mês passado, uma "Declaração de apoio ao povo haitiano em sua luta por uma educação pública e gratuita para todos e todas sem discriminação”. No documento, a rede se solidariza com a população haitiana e com o Reagrupamento Educação para Todos e Todas (Rept), coalizão do Haiti que luta por uma educação pública, de qualidade e sem discriminação no país.

As organizações alertam para as ações promovidas pelo Governo haitiano no campo educacional após o terremoto do ano passado. De acordo com elas, autoridades do país e Instituições Financeiras Multilaterais estão "direcionando a reconstrução do sistema educativo no país para aprofundar a privatização da educação no Haiti e a desresponsabilização do Estado”.

Notícias apontam que 80% das escolas que existem atualmente no país são particulares. Situação que agrava ainda mais a realidade do Haiti, que possui cerca de 70% de sua população vivendo abaixo da linha de pobreza.

"Recordamos que durante o processo de campanha eleitoral no Haiti, Joseph Michel Martelly tinha como uma de suas bandeiras a garantia da gratuidade da educação no país. Ao contrário do compromisso assumido, o presidente eleito hoje promove, com fundos das Instituições Financeiras Multilaterais, um sistema de transferência de recursos às famílias para que ponham seus filhos e filhas nas escolas do setor privado”, ressaltam.

As organizações - que levantam a bandeira de uma educação pública, gratuita, de qualidade, e disponível, acessível, aceitável e adaptável a todos e todas – ainda aproveitam o documento para repudiar a criminalização dos movimentos sociais e pedir justiça para os casos de violência ocorridos contra os lutadores sociais haitianos.

"Em tal sentido, manifestamos nossa preocupação pela impunidade que se mantém no caso de Jean Anil Louis Juste, professor da Universidade do Estado do Haiti (UEH), assassinado no dia 12 de janeiro de 2010 antes do terremoto, assim como o assassinato do professor sindicalista Jean Louis Filbert, ocorrido quando participava de uma marcha a favor do direito à educação pública. Também repudiamos a violência sofrida pelo estudante Mathieu Frantz Junior, da Faculdade de Etnologia, quem foi ilegalmente detido dentro deste espaço universitário e maltratado por forças do corpo da Minustah [Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti] há um ano”, destacam.

As organizações reforçam o pedido de desmilitarização do país ao mesmo tempo em que pedem ao Estado a garantia da integridade dos protestos pacíficos e dos defensores de direitos humanos que lutam por uma educação pública no país, e a aprovação de uma Lei Geral de Educação que assegure o direito humano à educação pública, gratuita e de qualidade.

A declaração completa está disponível em: http://www.campanaderechoeducacion.org/financiacion/?p=326

ACNUR pede US$ 33,2 milhões para ajudar vítimas de enchentes no

Islamabad e Genebra, 19 de setembro de 2011 - O Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) necessita de US$ 33,2 milhões para financiar suas operações de assistência às milhões de pessoas que lutam para sobreviver às devastadoras enchentes que atingiram o Paquistão pelo segundo ano consecutivo.

Os recursos necessitados pelo ACNUR estão incluídos no apelo conjunto de US$ 356,7 milhões feito pela ONU para assistir as vítimas das enchentes naquele país asiático pelos próximos seis meses.

O ACNUR utilizará os recursos solicitados para prover 75 mil tendas, 75 mil kits com itens domésticos e milhares de lonas plásticas que podem ser usadas para montar abrigos de emergência. Os suprimentos beneficiarão cerca de 530 mil pessoas - muitas das quais ainda tentando se recuperar das históricas enchentes de 2010.

A assistência será focada nos distritos de Badin, Tando, Muhammad Khan, Mir Pur Khas, Benazirabad, Dadu, Jamshoro e Thatta, na província de Sindh (ao sul do país). Na província de Balochistan, famílias afetadas nos distritos de Kalat, Nasirbad, Jaffarabad, Lashbella, Pishin e Qilla Abdullah também serão beneficiadas.

Cerca de 65 mil famílias na província de Sindh receberão os itens de assistência humanitária, além de outras cinco mil em Balochistan. Durante o final de semana, milhares de tendas do ACNUR foram distribuídas nos distritos de Badin e Thatta (província de Sindh), que foram particularmente atingidos pelas enchentes.

Em conjunto com seus parceiros no Paquistão, o ACNUR continua identificando e priorizando beneficiários do seu mandato afetados pelas enchentes. As atividades da agência da ONU para refugiados também incluirá monitoramento da distribuição da assistência para assegurar que pessoas vulneráveis sejam beneficiadas.

O ACNUR está liderando o esforço humanitário da comunidade em apoio ao governo para garantir que os grupos mais vulneráveis nas regiões afetadas sejam protegidos durante a emergência e o período pós-desastre. Caso seja necessário, o ACNUR está pronto para apoiar também a coordenação de campos para refugiados e a gerência de atividades.

Além de tendas e lonas plásticas, o ACNUR distribuirá garrafas para transporte de água, baldes plásticos, mosquiteiros, kits de cozinha, colchões, lençóis, cobertores e sabão. “Muitos dos que foram atingidos nesta emergência estavam tentando se reabilitar dos efeitos da enchente passada, o que torna a situação deste ano mais complexa”, afirma o representante do ACNUR no Paquistão, Mengesha Kebede.

Tanto em Sindh como em Balochistan, a distribuição de tendas familiares de emergência e itens de assistência está sendo feita por meio de autoridades locais e parceiros implementadores. Essas atividades serão coordenadas com outras agências da ONU e organizações humanitárias presentes na região.

Para mais informações, favor contatar
Tim Irwin - Oficial de Informação Pública (ACNUR Paquistão)
Telefone: +92-300-815-3692
e-mail irwint@unhcr.org
Duniya Aslam Khan - Assistente de Informação Pública (ACNUR Paquistão)
Telefone: +92-300-5017939
e-mail KHAND@unhcr.org
Babar Baloch - Oficial de Informação Pública (ACNUR Genebra)
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sexta-feira, 16 de setembro de 2011

DIVÓRCIOS DA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA

Pe. Alfredo J. Gonçalves, CS
No universo literário do filósofo polonês Zygmunt Bauman, o adjetivo líquido serve de complemento para uma série de títulos de suas obras: modernidade, amor, medo, vida, entre outras. As relações sólidas, duráveis e tradicionais se liquefazem em conexões virtuais: efêmeras e superficiais, provisórias e descartáveis. Em outros termos, rompe-se o contrato social que cimentou os fundamentos do mundo moderno e do regime democrático. “Tudo que é sólido se desmancha no ar”, escreviam Marx e Engels, já em 1848, no Manifesto Comunista.
Poderíamos falar desse derretimento do pacto social utilizando a metáfora do divórcio. De fato, além dos crescentes rompimentos matrimoniais, constata-se hoje uma série de divórcios em todas as áreas da “modernidade tardia” ou da “pós-modernidade” (deixamos de lado essa divergência de caráter mais acadêmico). Não custa examinar mais de perto algumas dessas dicotomias que batem às nossas portas. Divórcios ou dicotomias que dilaceram e fragmentam pessoas, comunidades, instituições e a própria sociedade como um todo.
1. Divórcio entre trabalho e emprego
O fim da centralidade do trabalho é o título de um artigo publicado na revista Pesquisa & Debate, SP, volume 9, número 2(14), páginas 87-104, 1998. Nele, o professor da UFF e doutorando do Instituto de Economia da UFRJ, André Guimarães Augusto, se contrapõe às posições e argumentos de Claus Offe, especialmente seus estudos sobre Estado e trabalho na sociologia crítica. Atualmente, numerosas publicações colocam no centro dos debates a tese do “fim do trabalho”.
Talvez um dos enfoques dessa temática seja o divórcio entre trabalho e emprego. No entender de Bauman, a pós-modernidade se caracteriza, entre outros fatores, pela passagem da sociedade de produção à sociedade de consumo. Com isso, o emprego nos moldes tradicionais, estável, com carteira assinada e perspectiva de aposentadoria, dá lugar à predominância do trabalho temporário, chamado freelancer, instável, domiciliar, etc. Os “bicos” ou serviços eventuais ganham terreno sobre o contrato de trabalho duradouro, às vezes passado de pai para filho através da confiança. Ao invés de um posto de fôlego largo numa grande indústria, montadora ou renomada rede comercial, as empresas passam a utilizar uma mão-de-obra pendular. O que se combina perfeitamente com as pequenas unidades de produção, facilmente desmontáveis e móveis de acordo com a facilidade de matéria prima de braços mais baratos. Combina também com a intensa, complexa e diversificada mobilidade geográfica de milhões de trabalhadores, os quais, hoje em dia, para usar os termos de Marx, constituem um enorme “exército de reserva que não mora, acampa”.
Na sociedade de produção, se quisermos seguir com Bauman, a relação entre o operário e o patrão, embora sempre a uma distância recomendável, não raro vinha acompanhada de certa proximidade quanto aos trabalhadores confiáveis. Para arrumar emprego, “o mais importante é ter conhecimento”, dizia-se. Tal conhecimento, acrescido de laços de amizade compadrio e de influência, abria muitas portas. Oportunidade que, em não poucos casos, passavam de geração para geração. Na sociedade de consumo, pelo contrário, o que importa é a perfomance do candidato, não sua origem ou a indicação de algum padrinho. O trabalhador terá de passar por uma maratona de testes antes de ser admitido. No primeiro caso, o nome, a tradição e as relações de conhecimento tinham peso; agora prevalece o desempenho para tarefas bem específicas. Desempenho que nem sempre vem acompanhado de um emprego estável, mas de serviços prestados e remunerados eventualmente.
Não falta trabalho, ou trabalhos no plural. O que falta são empregos mais estáveis, com relativa duração. O que, por sua vez, impossibilita ao trabalhador e sua família fazer um planejamento ou um projeto de vida. Ele fica à mercê do que o mercado possa ou não oferecer. Torna-se mais frágil a estabilidade no emprego, enquanto ganha força a procura e a oferta de determinadas tarefas. Grande parte das empresas passa a operar, de um lado, com um reduzido grupo de especialistas qualificados e, de outro, com uma maioria de trabalhadores temporários. Para estes, um ano de carteira assinada é algo a ser comemorado. Os contratos tendem a ser curtos e descartáveis, não apenas na agroindústria ou agronegócio, onde o ciclo sazonal da produção tem fluxos e refluxos de mãos-de-obra, mas também em outros campos da economia, seja no setor primário ou secundário, seja no setor terciário. Daí a expressão hoje tão popularizada: “procurei emprego e encontrei trabalho”. Um divorcia-se cada vez mais do outro.
2. Divórcio entre amor e sexo
Na metáfora líquida de Bauman, os laços primários tendem a derreter-se. Surgem as conexões efêmeras e descartáveis. De acordo com o autor, com um toque na tecla do computador você pode arrumar 500 amigos em um segundo. Porém, a facilidade de conectar-se é irmã siamesa da rapidez de desconectar-se. Se isso vale para a amizade, vale igualmente para o amor ou o namoro. O “ficar” prevalece sobre o “namorar”. Neste, a relação exige intercâmbio, mudanças e relações de responsabilidade. Já no primeiro, o importante é o prazer pelo prazer, é “tirar uma casquinha”. Depois cada um segue seu caminho independente. Nem sequer há necessidade de saber o nome, endereço, família, etc. A fluidez e a superficialidade tendem a um grau bem maior quando a relação é virtual.
O amor implica renúncia, diálogo, compreensão, que tem como pano de fundo o bem querer. Requer capacidade de pedir e oferecer o perdão, de voltar atrás e de “engolir sapo”. Harmonizar duas cabeças, dois corações e dois corpos, olho no olho, é uma tarefa que exige passos lentos e uma vida inteira. O caminho é longo, permeado de incongruências e contradições. Extremamente laborioso e doloroso. Renascer e crescer são coisas que só ocorrem mediante dor. Daí a opção pela via curta do sexo fácil, light, sem conseqüências. Os meios de comunicação social e o ambiente urbano, com seus apelos atrativos e permissivos, facilitam essa escolha. O mercado profusamente iluminado de luzes, sons e cores, ou a “tirania do prazer” (J. C. Guillebaud), com suas casas noturnas e suas baladas, oferecem alternativas sem conta. Os acidentes... Bem, os acidentes sobram para as mulheres.
O mesmo divórcio pode ser encontrado entre amor e casamento. Com uma frequência inusitada, muitos casais resolvem se unir em matrimônio quando o amor já esfriou. O calor da paixão e da atração afetivo-sexual parece ir se apagando durante o namoro. A fronteira para o casamento, em alguns casos, significa entrar numa rotina que acabará por sacrificar o amor às conveniências. Evidente que a separação e o divórcio ( aqui em sentido literal) não podem estar longe de um estado de coisas semelhante.
3. Divórcio entre poder e política
Neste caso, basta uma olhada rápida à prática política brasileira das últimas décadas. As urnas elegem os prefeitos, governadores e presidente. Estes tomam o governo, mas seu domínio sobre os diversos órgãos do Estado é tênue e reduzido. O poder de decisão e de influência permanece atrelado às velhas oligarquias, extremamente retrógradas e avessas a qualquer tipo de mudança. A economia centralizada em imensos latifúndios (da terra e do agronegócio, das comunicações e da telefonia, das redes de supermercados e shopping centers), os privilégios da Casa Grande, o patrimonialismo (apropriação privada da rex publica), a corrupção e o tráfico de influência seguem imunes impunes. Entra governo e sai governo, mas o núcleo duro do modelo capitalista neoliberal permanece intocável. Em nome de uma governabilidade do “real politik”, costuram-se as alianças mais espúrias, abdicando facilmente da utopia de um “outro mundo possível”. Girando na órbita da economia globalizada, fornecendo matérias primas para os países centrais, deixam-se de lado as grandes lacunas sociais da população brasileira, tais como educação, saúde, habitação, segurança, transportes públicos, infra-estrutura, etc.
É bem verdade que um ou outro governo empreendeu esforços sérios de mudanças. Estas, porém, se restringem à periferia dos grandes entraves nacionais. Desatam alguns nós de superfície, sem ousar mergulhar nas correntes profundas e obscuras dos mandos e desmandos de quem detém o poder de decisão. Mais do que uma reforma agrária e agrícola, por exemplo, ou uma verdadeira distribuição de renda, o que vemos é uma série de programas que jogam migalhas para a população de baixa renda, recheadas de discursos retóricos e bombásticos. Em lugar de políticas públicas estáveis e duradouras, prevalecem as políticas compensatórias, com o verniz de um populismo historicamente ultrapassado.
Os interesses da bancada ruralista ou das companhias de telefonia e comunicação, fatias do mercado altamente disputáveis pela sua rentabilidade, são exemplos desses entraves históricos e estruturais. Mexer aí é mexer com caixa de marimbondos. Imediatamente os representantes do Congresso Nacional – nas duas casas – passam ao jogo de influência, de chantagem, quando não de corrupção pura e simples. A recente “faxina” empreendida pela presidente Dilma Rousself, e agora de certa forma abortada, ilustra bem essa impotência do governo frente às múltiplas forças que compõem o Estado liberal/neoliberal. Aliás, hipocritamente liberal, umas vez que, em tempos de vacas gordas, concentra em suas mãos lucros e o capital; mas, em tempos de vacas magras, pede socorro aos cofres do governo. A regra é simples: privatização dos ganhos, socialização das perdas!
Em suma, o império do mercado total se divorcia e supera o poder dos políticos legitimamente eleitos. Estes, quando muito, passam a ser cúmplices ou capatazes dos grandes interesses nacionais e internacionais. Em última instância, as determinações da política são ditadas pelas leis férreas da economia globalizada, centralizadora e excludente.
4. Divórcio entre viver bem e bem viver
A expressão “viver bem” denota o acesso fácil às novidades do mercado de bens de toda sorte. A velocidade do ciclo produção-comercialização-consumo aumenta de forma vertiginosa, comprometendo os recursos não recicláveis da natureza. A chamada civilização ocidental, especialmente a partir da Revolução Industrial, explora, devasta e polui a mãe Terra, impedindo-a de função primordial como fonte da biodiversidade. Porém, para a classe média e alta em geral, pouco importa o custo social ou ecológico desse produtivismo e consumismo exacerbados. Importa pouco também as toneladas de alimentos e produtos desperdiçados de forma irresponsável. Menos ainda as assimetrias e desigualdades sócias que implica essa forma de vida. O importante é que o “cliente, consumidor ou usuário” esteja satisfeito. O culto ao corpo e da celebridade, a proliferação das academias, a fascinação pelas luzes dos shoppings centers vão nessa direção. “Estar numa boa” é a regra. O resto... Cada um que se vire como pode!
Nos últimos anos, vem emergindo com força a expressão “bem viver”. Num primeiro momento, ela se contrapõe ao “viver bem” do consumo e desperdício ilimitado. São duas formas de encarar os bens que estão à nossa disposição. Mas não está descartado que o viver bem caminhe em direção ao bem viver. O diferencial aqui é o uso correto da ciência e da tecnologia. De fato, o bem viver não é uma forma necessariamente artesanal de vida, não é um recuo ao saudosismo pelo passado paradisíaco. No espírito do bem viver cabe uma nova maneira de usar os recursos tecnológicos a serviço de uma vida mais sóbria, frugal, responsável, solidária. Uma vida social, econômica, cultural, política e ecologicamente sustentável.
A tentativa, neste caso, é a de resgatar o saber das comunidades indígenas, negras, quilombolas e camponesas, no sentido de uma nova forma de conviver no planeta e cuidar das diversas formas de vida que sobre ele se reproduzem. O protagonismo do mercado é substituído por novas formas de produção e consumo. As iniciativas da economia solidária, por exemplo, ganham grande relevo. O que não exclui, vale insistir, o uso da tecnologia de ponta de uma forma menos privatizada e mais socializada. A pergunta fundamental se coloca nos seguintes termos: quem, como e para quem se produz? A partir da resposta a essa tríplice pergunta, todos os meios podem estar a serviço de um modelo político e econômico diferenciado do atual, um modelo sob o primado da justiça e dos direitos fundamentais da pessoa humana e da biodiversidade.
Duas apostas estão em jogo: de um lado, a construção de uma nova civilização, não no ritmo alucinado e devastador do capitalismo neoliberal, mas respeitando o ciclo natural e cadenciado da vida no planeta. Trata-se de uma nova relação com a Terra, devolvendo-lhe o direito de ser mãe de toda espécie de vida. De outro lado, os esforços para estabelecer novas relações nacionais e internacionais, uma espécie de “democracia global”, como o diz Bauman, uma vez que os Estados Nacionais esgotaram sua capacidade de gerenciar as decisões. Estas passam do âmbito nacional para o âmbito mundial. Daí a necessidade de novos instrumentos, novos mecanismos e novas formas de participação nas decisões globais.
5. Divórcio entre comunidade e rede
Na comunidade se desenvolvem relações “eu-tu”, mas, ao mesmo tempo, abertas ao “nós”. Diferentemente do gueto, onde as portas permanecem cerradas, a comunidade mantém-se fluída e permeável a novos integrantes. Não se fecha o trânsito entre os de dentro e dos de fora. Não se cria muros entre incluídos e excluídos. Tende a respeitar não somente a liberdade de expressão, mas também o direito de ir e vir. A comunidade é terreno fértil para a amizade, onde prevalecem laços sólidos, duradouros, familiares. A proximidade permite a linguagem da fala, do gesto e do toque – todas formas de comunicação de quem muita ama e muito sofre, de quem em sua trajetória acidentada passou por situações-limite.
A rede, ao contrário, tende a desenvolver laços tênues, provisórios, descartáveis. Amplia o raio das relações e troca mensagens a uma velocidade e distância espantosas. Mas tudo pode ser deletado em um segundo. Conectar-se e desconectar-se não tem maiores implicações de ordem ética ou moral. Comunicação entre máquinas, não entre seres humanos. Ganha-se e perde-se contatos às dezenas, centenas e até milhares, mas sem vínculos mais fundos. Sentimentos e emoções ficam de lado. Por isso é que romper com a comunidade implica cortar raízes profundas, traz dor e sofrimento, deixa um rasto de saudade; ao passo que romper com a rede não passa de um gesto mecânico, onde as conseqüências não afetam o íntimo da pessoa. Tudo se dá num nível de superficialidade que não mexe com as entranhas. Não há um rosto e uma família com quem devo me justificar. Basta deletar!
A proximidade das relações comunitárias contrasta com a distância das relações de ordem virtual. Também contrasta o grau de intimidade. No primeiro caso, a transparência é maior, há mais envolvimento pessoa a pessoa, cara a cara. Cresce certo desvelamento e nudez. No segundo caso, utilizam-se os modismos da informática, as últimas novidades da técnica, muitas vezes para fugir a um contato mais comprometedor. A própria linguagem das mensagens eletrônicas costuma ser mutilada, sugerida, poucas vezes aberta e explícita. Como se a pessoa se insinuasse, mas temesse revelar-se. A distância permite uma entrega apenas parcial, quando não um encerramento sobre si mesmo.
Mas não exageremos: as máquinas podem servir, também, para um intercâmbio interpessoal. Uma vez mais, a técnica em si não afasta a possibilidade de relacionamentos íntimos autênticos e profundos. O problema está no modo como se utiliza a Internet ou o celular, por exemplo. Como todas as ferramentas, a tecnologia é neutra. Tanto pode agregar como segregar as pessoas. Aos poucos, multiplicam-se casos de pessoas que se apaixonam e se unem através de tais meios, vivenciando experiências inovadoras, embora também se multipliquem as desilusões.
6. Divórcio entre o ser e a função
Numa “sociedade do espetáculo” (Guy Debord), com o placo profusamente iluminado de luzes e cores, já vimos como a perfomance adquire primazia sobre a história e a dignidade da pessoa humana. Esta se mede pelo que é capaz de produzir, fazer, consumir, aparentar. Além disso, no decorrer de um único dia, o indivíduo pode exercer funções múltiplas e diferenciadas. Troca de “máscara” como troca de roupa, de acordo com os compromissos assumidos. Ninguém se importa por seu nome, origem sentimentos, sonhos e projetos... Importa apenas que desempenhe bem o papel a que é chamado no teatro multifacetado da existência. Papel que, em não poucas vezes, pode entrar em conflito com as aspirações mais profundas do ser humano. Em lugar da transparência nas relações, a pessoa é facilmente levada a uma representação, o que incentiva a falsidade e a hipocrisia.
Associada às questões levantadas acima sobre o mundo do trabalho, o ser se fragmenta em mil facetas para dar conta das tarefas. Muitas vezes o jovem cultiva e se capacita para determinada inclinação, mas, das às exigências do mercado, é forçado a priorizar outro tipo de tarefa para a qual nem sempre está preparado. Vocação e profissão entram em conflito. Não é difícil encontrar profissionais liberais, com o curso e o diploma universitário completo, exercendo algum serviço que nunca lhe passou pela cabeça. No cenário caleidoscópico das oportunidades de trabalho, a função e o desempenho são as moedas que adquirem valor de troca. As necessidades do mercado impõem as “escolhas profissionais”. A quantidade se sobrepõe à qualidade.
Mais do que a traçar um projeto de vida e preparar-se para uma contribuição específica e qualificada na sociedade, o jovem que inicia no mercado de trabalho é chamado a buscar respostas imediatas para problemas imediatos. A capacidade de reflexão, que amadurece e faz crescer, tende a ser substituída por uma operacionalidade pontual e funcional. O protagonismo histórico dá lugar à figura do ator que, à luz de holofotes e ao som dos aplausos, trata de representar da melhor forma possível. As funções (no plural) vão tomando o lugar do ser (no singular). A singularidade, única e irrepetível, se dispersa na capacidade de desempenhar tarefas. Em síntese, a pessoa fragmentada em funções diversas e até contraditórias passa a funcionar como peça de reposição.
Resulta que o ser humano entra num processo crescente de cansaço e estresse. Não tanto pelo volume de atividades, mas por sua dispersividade. Como os raios de uma roda que giram sem eixo. Muitas tarefas, sem um núcleo centralizador que dê sentido ao corre-corre diário, aumentam os fatores de fadiga. Fragmentado em suas funções o ser pode descentrar-se e perder, ao mesmo tempo, o foco da própria existência, a serenidade e a paz. Retomar o centro significativo da vida costuma ser um processo lento e laborioso, uma reprogramação da ação humana.
7. Divórcio entre fé e religião
Um fenômeno já conhecido no universo católico foi recentemente descoberto também no universo do pentecostalismo das Igrejas autônomas. Segundo pesquisas realizadas recentemente, 14% dos que se denominam “crentes”, dizem acreditar em Deus, mas não querem saber da Igreja ou dos pastores. A fé sem as suas tradicionais mediações de ordem institucional vem crescendo em escala progressiva. Espiritualidade privatizada, individualizada, intimista, com pouco ou nenhum desdobramento sociopolítico. É um fenômeno que aumenta paralelamente à fé self-service: ou seja, no trânsito entre as várias denominações religiosas, a pessoa escolhe algo de cada uma, complementando com isso o seu cardápio espiritual. O pluralismo cultural e religioso que hoje se verifica em todo o mundo permite esse prato diversificado.
As pessoas têm fé, lutam desesperadamente para não perdê-la, buscam o transcendente pelos caminhos mais diversos. Mas dispensam a mediação dos representantes religiosos. Uma das características do universo pós-moderno é justamente o retorno do sagrado. Por toda parte se ouve “um rumor de anjos” (Peter Berger). Os deuses voltam ao palco da história com a mesma violência com que foram banidos no cenário do iluminismo moderno. Mas voltam como uma busca exotérica – espécie de hobby – e não associados a um compromisso coletivo. Instalam-se dentro dos indivíduos, mais do que no interior de comunidades socialmente ativas. Trata-se, não raro, de deuses alados e esvoaçantes, com receio de sujar os pés na lama das turbulências históricas. Deus que vivem num novo Olimpio grego, sem descer aos infernos do sofrimento humano.
“Eu me entendo com Deus e basta”, ouve-se dizer nas conversas do dia-a-dia. Há aqui, como pano de fundo, uma leitura fatalista da história, segundo a qual está não pode ser mudada pelas mãos humanas. “Só Deus pode dar um jeito!” Por outro lado, os programas da mídia, os enfeites dos shoppings centers, os títulos dos livros, a moda de certos movimentos de origem oriental – tudo isso demonstra a presença do sagrado. Mas é mínima a porcentagem dos que, mesmo atraídos por tais divindades, freqüentam regularmente uma Igreja. A fé se apresenta como uma espécie de visão de mundo que dá sentido à existência, um sentimento vago de organização frente ao caos e ao absurdo dos fatos. Conduz mais a uma fuga do mundo do que à sua transformação.